Retomada

Máquinas para lavoura arrozeira puxaram as vendas na 47ª Expointer

Produtores compraram semeadoras, taipadeiras, plainas niveladoras e valetadeiras, além de caçambas estreitas

O segmento de máquinas e implementos agrícolas foi responsável por mais de 95% do volume de negócios realizados durante os nove dias de feira em Esteio | Foto: Fagner Almeida/Divulgação
O segmento de máquinas e implementos agrícolas foi responsável por mais de 95% do volume de negócios realizados durante os nove dias de feira em Esteio | Foto: Fagner Almeida/Divulgação

A 47ª Expointer, considerada a Expointer da retomada, após a tragédia climática de abril e maio, mostrou a resiliência e perseverança do Rio Grande do Sul ao bater recorde no volume de negócios. A maior feira agropecuária a céu aberto da América Latina movimentou R$ 8,1 bilhões em seus nove dias, número 1,41% superior ao registrado no ano de 2023.

As máquinas e implementos agrícolas, carro-chefe de vendas da Expointer, registraram R$ 7,39 bilhões em intenções de negócio. O valor representa um aumento de 0,57% em comparação com a edição do ano passado, que foi de R$ 7,3 bilhões. Os negócios na Expointer foram puxados pela comercialização de máquinas para a lavoura arrozeira e da linha amarela, conforme levantamento do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers).

“Temos dois setores que puxaram as vendas, o pessoal do arroz e o pessoal da linha amarela, reconstrução de estradas, casas. No ano passado, ainda era soja e milho”, sublinhou o presidente do Simers, Claudio Affonso Amoretti Bier, lembrando que, mais uma vez, o segmento de máquinas e implementos agrícolas foi responsável por mais de 95% do volume de negócios realizados durante os nove dias de feira em Esteio.

O dirigente ressaltou que a Expointer se mostrou um sucesso não só pelas vendas, mas pela superação do povo gaúcho. Ele recordou que o espaço destinado ao maquinário estava alagado e tinha muita lama. Ele entrou em contato com os parceiros industriais e pediu para que viessem para a Expointer, mesmo sem perspectivas de venda, porque era preciso levantar o Rio Grande. “Precisávamos de uma Expointer para dar moral ao nosso estado e ao nosso agricultor. E assim foi feito”, destacou.

Foto de homem falando em um microfone. Ele é branco, tem cabelo grisalho e veste casaco azul escuro. Ao seu lado há algumas pessoas sentadas assistindo.
Claudio Affonso Amoretti Bier, presidente do Simers e Fiergs, afirma que a feira superou as expectativas | Foto: Divulgação

O dirigente disse ter sido surpreendido com os resultados das vendas. “Para nossa surpresa, mesmo sendo um homem otimista, não imaginava que fossemos vender tudo que vendemos”, comemorou Bier. “O setor não vinha vendendo bem, talvez o comprador estivesse guardando sua energia e sua verba para esperar lançamentos, o que sempre acontece na Expointer”, acrescentou.

Este ano, além do Simers, Bier também participou pela primeira vez à frente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), e destacou a força e união da indústria como importantes agentes na reconstrução do Estado. “A Expointer tem uma importância simbólica para o povo gaúcho, e a indústria mostrou sua relevância dentro desse contexto. Especialmente, no segmento das máquinas amarelas que são determinantes nesse momento de reconstrução”, ressaltou.

Os orizicultores enfrentaram anos de crise e vem agora de boa produção e melhora no preço do produto, o que pode ter impulsionado as vendas para o setor. Enquanto os de soja, muito impactados pelos prejuízos da catástrofe climática de abril e maio e na sequência de estiagens, diminuíram o ritmo e foram com menor ímpeto às compras na Expointer.

“Essa Expointer ficará na história porque tivemos números robustos. De 365 mil propriedades rurais, o Rio Grande do Sul teve 202 mil propriedades afetadas pelas enchentes, e mesmo assim houve 40% de aumento na tomada de crédito”, afirmou o vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Domingos Velho Lopes.

As vendas na mostra de Esteio foram positivas, na avaliação do gerente comercial da Agrimec Implementos Agrícolas, Diego Sousa. “O arroz é um produto que está com um bom preço de comercialização. Então, como o preço da soja está baixo, há pessoas dentro do estado migrando da soja para o arroz, em regiões de várzea, onde é possível plantar arroz. Já houve períodos em que o contrário ocorreu”, disse.

Foto de colheitadeira e carreta graneleira em lavoura de arroz.
Na safra 2023/2024 foram semeados 900,2 mil hectares de arroz irrigado | Foto Cleiton Ramão/Irga

A empresa, fundada em 1974 em Santa Maria, na região central do Estado, produz máquinas para a linha do arroz, do plantio à colheita. Antes mesmo do fim da feira, já não tinha produtos a pronta entrega devido à grande procura. “’Não tínhamos alguns modelos para entregar como a plaina niveladora, que é uma máquina de preparo do solo. Trabalhamos sábado, domingo, as máquinas operaram por 24 horas e não deram conta”, salientou Sousa. “Taipadeira, que faz as curvas de nível para o arroz, e a valetadeira, também foram produtos bem procurados. O pessoal chegou na feira pedindo a pronta-entrega, mas não tinha”, completou o executivo.

A empresa também vende máquinas da chamada linha amarela, conforme o gerente comercial. São máquinas pesadas usadas em obras e trabalhos de infraestrutura, como retroescavadeiras, outra demanda significativa na feira depois da catástrofe climática de abril e maio, a maior da história do Rio Grande do Sul. “Com as enchentes, os produtores estão comprando caçambas estreitas para reconstruir estradas e estruturas de produção”, explicou.

A Semeato, de Passo Fundo, na Região Norte do Estado, também fez uma boa avaliação dos negócios realizados durante a exposição de Esteio. A Expointer é a segunda feira agropecuária mais importante no calendário da Semeato, atrás da Expodireto, em Não-Me-Toque (RS), mostra do agronegócio voltada ao plantio direto.

“Viemos com a expectativa baixa, foi difícil decidir se iria acontecer ou não, mas a feira está surpreendendo positivamente. Vieram muitas pessoas buscando novidades, entendendo sobre tecnologia, vendo como estão as diferenças, o que tem de inovação”, observou a coordenadora de Marketing da empresa, Luana Santos. “A máquina mais procurada foi a TDNG, uma das semeadoras líder no plantio de arroz. O modelo é destinado ao plantio convencional, cultivo mínimo e plantio direto de diversas culturas”, sublinhou.

Polo de produção

O Rio Grande do Sul concentra cerca de 65% das indústrias de máquinas agrícolas e implementos usados pelo homem do campo no Brasil. No Estado, o segmento gera cerca de 35 mil empregos diretos e outros 150 mil indiretos, conforme o Simers. Grande parte delas tem suas plantas instaladas na Região Noroeste do Estado, devido às questões históricas relativas ao início do plantio agrícola e ao processo de mecanização, assim como à posição estratégica em relação ao Mercosul.

Nos últimos anos, mesmo com a expansão das grandes fronteiras agrícolas para o Centro-Oeste e, em parte, para as regiões Norte e Nordeste do Brasil, a indústria de maquinário agrícola continuou bastante concentrada em sua região de origem. Em função disso, o mesmo ocorreu com as empresas fornecedoras de peças e componentes especiais.

No Rio Grande do Sul, especialmente no município de Santa Rosa, na Região Noroeste – grande produtora de soja e milho – predominam as firmas menores, que, na maioria dos casos, fabricam peças e componentes para as montadoras de maquinário agrícola de maior porte e complexidade. Essas empresas fabricantes de peças e componentes, na maior parte das vezes, são subcontratadas daquelas fabricantes de tratores e colheitadeiras. No entanto, muitas delas produzem, além dessas peças, implementos agrícolas mais simples.

Mas empresas de grande porte também estão instaladas na Região Noroeste, como a AGCO, em Santa Rosa, e a John Deere, em Horizontina, que produzem máquinas automotrizes. Outro exemplo é a Fankhauser, de Tuparendi, que fabrica plantadoras, semeadoras, adubadoras e carretas graneleiras.

Tanto a AGCO quanto a John Deere são grandes responsáveis pela demanda de produtos das demais empresas de menor porte, estrategicamente localizadas nas proximidades das duas fábricas. Entre as gigantes e pequenas existem relações de subcontratação de natureza estável, que, na maioria das vezes, envolvem relações de cooperação e de aprendizado.

Nos últimos anos, porém, um novo polo surgiu no interior e na Região Metropolitana de São Paulo, o Estado mais industrializado do País. E a tendência, apontam os especialistas, é de que, com o crescimento da economia brasileira, sejam criados outros polos de produção de peças e componentes especiais pelo Brasil afora.