No dia 11 de julho, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou um levantamento sobre a safra de milho safrinha de 2024 no Brasil, com dados preocupantes envolvendo a produção no estado do Paraná, apontando uma redução significativa na área de cultivo paranaense, principalmente devido aos baixos preços do cereal. Além disso, déficits hídricos em várias regiões, como o extremo-oeste, noroeste e norte do Paraná, combinados com altas temperaturas, resultaram em perdas substanciais no potencial produtivo das lavouras.
Relato dos Produtores
Edmilson José Zabott, presidente do Sindicato Rural de Palotina e produtor rural no Oeste do Paraná, destacou as dificuldades enfrentadas. “Com relação à safrinha de milho 2024 no Paraná, ela ainda não foi concluída, nós temos regiões que estão em fase de colheita. Vamos ter perdas, sim, registradas, porque algumas regiões do Estado, como o Oeste, o Norte do Paraná e mais algumas outras regiões, apresentam perdas significativas”, afirmou Zabott. Ele acrescentou que “as maiores perdas, sem dúvida, são aqui no Oeste do Paraná, onde nós estamos localizados, numa microrregião.”
Zabott explicou que os produtores da microrregião do Oeste do Paraná enfrentaram perdas médias superiores a 60%. “Essa situação de quebra do milho safrinha trará ainda mais dificuldades para o produtor rural, que agora, mais do que nunca, terá que buscar uma renegociação de suas dívidas junto às instituições”, desabafou Zabott.
Condições Climáticas Adversas
Carlos André Schipanski, engenheiro agrônomo e mestre em proteção de plantas, além de gerente técnico e de pesquisa da G12Agro Pesquisa e Consultoria Agronômica, confirmou a análise de Zabott. “Sem dúvida nenhuma, o grande vilão da safra foi o clima“, afirmou Schipanski. Ele explicou que a má distribuição das chuvas durante a condução da safrinha foi crucial. “Muitas lavouras em fase crítica de pendoamento e polinização até o enchimento de grão passaram por regimes de estresse hídrico muito intensos e somados às temperaturas altas, o calor, acabou havendo uma potencialização desses danos”, disse Schipanski.
Schipanski destacou que a produção está, em média, 20% menor do que no ano passado. “Lavouras com perfil mais bem trabalhado, mais construído ao longo dos anos, sofreram impactos menores, mas ainda assim sofreram. E quem realmente não pensou no investimento no solo ao longo dos anos, teve um prejuízo maior”, acrescentou.
Dados da CONAB
Segundo a CONAB, 42% da área total já foi colhida, com 7% das lavouras ainda em enchimento de grãos e 51% em maturação. As condições climáticas variaram amplamente, com as regiões do extremo-oeste, noroeste e norte do Paraná sendo as mais afetadas. Além das adversidades climáticas, a influência de pragas e doenças, como bacteriose e cigarrinha, também foi um fator decisivo na redução da produtividade.
Impacto Econômico e Futuro
A situação se reflete em preços baixos, com o milho sendo comercializado a R$ 47 em Palotina e a soja a R$ 117 . Esses preços aumentam ainda mais as dívidas acumuladas pelos produtores ao longo dos anos. Zabott expressou preocupação com a sustentabilidade dos produtores: “As consequências para os produtores rurais são gigantescas.”
Além disso, a cultura de inverno também enfrentou problemas significativos. “Nós plantamos trigo, aveia, alguns mix de cobertura, e nada disso germinou, porque nós passamos 45 dias sem chuva”, afirmou Zabott.
Para o futuro, Schipanski enfatizou a importância de investimentos contínuos na correção do solo para melhorar a resiliência das lavouras. “Investir no solo, na parte de fertilidade química, biológica e física, é essencial para enfrentar cenários climáticos adversos no futuro”, concluiu.
Análise de Mercado
Paulo Molinari, consultor de mercado, trouxe uma perspectiva nacional sobre as movimentações de mercado do milho safrinha. “Em nível nacional, o efeito é pequeno, pois a formação de preços segue os níveis de porto e não no Paraná”, comentou Molinari. Ele explicou que, em um ano de produção normal, os preços no Paraná poderiam ter caído significativamente, mas devido às perdas, o estado exportará menos e manterá a oferta para seu abastecimento interno.
Molinari também mencionou que há uma tentativa de compensar as perdas da safrinha com uma melhor produção de trigo. “Há ainda uma comercialização de milho lenta na tentativa de aguardar preços melhores”, acrescentou.
No cenário internacional, as perdas no Paraná não alteram significativamente o quadro. “Isso se deve à boa exportação da Argentina, aos altos estoques nos EUA e ao quadro de preços acomodados no ambiente externo”, afirmou Molinari.
A safra de milho safrinha no Paraná está projetada em 11,7 milhões de toneladas, uma queda significativa em relação aos 15 milhões de toneladas de 2023. “Como os preços não conseguem subir, os efeitos para o aumento de área no próximo verão são discretos. Precisaríamos de uma alta de preços para motivar o plantio de verão”, explicou Molinari.
Além disso, Molinari destacou a falta de políticas compensatórias por parte do governo federal. “A política para o agro se resume a crédito de custeio. Não há qualquer ação compensatória do governo federal no sentido de equalizar as perdas de safra dos produtores para milho e soja”, concluiu.