As chuvas e cheias de maio no Rio Grande do Sul causaram danos significativos para a agricultura familiar. De acordo com dados apresentados nesta terça-feira (11) pela Emater/RS-Ascar, 4,5 mil comunidades foram afetadas por problemas nas estrada, 19,1 mil famílias tiveram danos em construções e instalações e 14 mil moradias foram atingidas.
O Relatório Técnico de Impactos da Crise Socioclimática aos Públicos da Agricultura Familiar foi apresentado em evento realizado no auditório do Escritório Central da Instituição, em Porto Alegre, com transmissão ao vivo. O documento também traz dados sobre o abastecimento de água, destacando que mais de 4,5 mil fontes foram contaminadas e 34,5 mil famílias ficaram sem acesso à água.
Na produção animal, foram 3,7 mil produtores com perdas nas criações. Na produção vegetal, 48,6 mil agricultores foram afetados nas culturas de grãos, 8,3 mil na fruticultura, 8 mil nas culturas de olerícolas, 49 na floricultura e 32,4 mil agricultores afetados em pastagens.
Segundo o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera, a Instituição assessorou 152,3 mil famílias de agricultores familiares em 2023. “São famílias e comunidades que vivenciam riscos e vulnerabilidades diversas, que incluem aspectos sociais, relacionais, econômicos, ambientais e culturais, com distintos níveis de desproteções, que podem variar conforme as condições de vida no território e eventuais incidências de calamidades”, salienta.
Agroindústrias e Cooperativas da Agricultura Familiar
Os impactos chegaram a 200 agroindústrias, com danos em imóveis e equipamentos, perda de matéria-prima, além de dificuldades de logística e vias de comercialização. A Emater/RS-Ascar assessora 120 cooperativas da agricultura familiar, das quais 36 informaram que sofreram impactos, somando cerca de 10 mil associados afetados.
Assentamentos da reforma agrária
No que diz respeito aos impactos das cheias sobre os assentamentos da reforma agrária, o extensionista James Roth destaca que foram coletados dados como o número de lotes e famílias assentadas afetadas e desalojadas, bens comprometidos, impactos nas criações agropecuárias, nos acessos aos assentamentos, na capacidade produtiva, no solo, nas estruturas de reservação de água, áreas submersas e outros impactos relevantes, além das principais necessidades imediatas das famílias. O percentual de assentamentos do RS afetados de alguma forma chegou a 66%, com impactos sentidos em 226 deles e 7,4 mil lotes.
Aldeias indígenas
Dentre as aldeias indígenas afetadas, 80% sofreram algum dano material em suas moradias, bens e/ou pertences pessoais. A extensionista Mariana Soares ressalta que, em relação a moradias, as chuvas e cheias extremas provocaram danos parciais ou totais, como a presença de goteiras e/ou destelhamentos, gerando maiores impactos em razão de já haver condições precárias. Além disso, houve perdas de móveis, eletrodomésticos, colchões, roupas e demais pertences pessoais. Os impactos em lavouras foram sentidos em 60% das aldeias, principalmente da cultura do feijão, hortas domésticas ou coletivas, criação de pequenos animais (aves, gado, suínos, entre outros) e na infraestrutura rural.
Pescadores artesanais
Os danos materiais foram sentidos por 2,1 mil famílias de pescadores artesanais, com perdas nas moradias, bens e pertences pessoais, 3 mil famílias precisaram sair de casa temporariamente por danos ou perda total. “As enchentes resultaram em danos significativos às moradias, móveis e utensílios das famílias afetadas, além da destruição de trapiches e outros equipamentos de pesca”, enfatiza o gerente técnico adjunto da Emater/RS-Ascar, Luís Bohn.
Quilombolas
Quanto às famílias quilombolas diretamente afetadas, 300 foram desalojadas e 342 tiveram danos em domicílios e infraestrutura rural. A extensionista Regina Miranda sublinha que, “em meio à complexidade de uma crise em curso, é fundamental que os entes públicos atuem rapidamente para identificar os danos e definir medidas de reparação que variem do emergencial ao estruturante. Esse processo deve incluir um gradiente de ações imediatas, a médio e longo prazo. A resposta à crise enfrentada pelas comunidades quilombolas deve ser abrangente e coordenada, envolvendo esforços do governo municipal, estadual e federal em conjunto com as entidades representativas e organizativas das comunidades”.
Políticas Públicas
De acordo com a presidente da Emater/RS e superintendente geral da Ascar, Mara Saalfeld, o objetivo do levantamento dos dados é proporcionar subsídios às diferentes esferas de governo e demais instituições para a construção de políticas públicas em conjunto. “Nós acompanhamos de perto os efeitos dessa tragédia na vida de todas as pessoas que foram atingidas. Nossa intenção agora é minimizar as vulnerabilidades causadas pelas cheias, através da assistência social no meio rural e, de mãos dadas com as demais instituições, interferir e ajudar a construir políticas públicas, que a gente consiga minimizar isso”, salienta a presidente.
O secretário adjunto da Secretaria Estadual de Desenvovimento Rural (SDR), Lindomar do Carmo Moraes, participou da mesa de abertura do evento. “Nós precisamos olhar com carinho para a situação dos nossos produtores, o endividamento que a crise gerou, famílias que ficaram sem nada, perderam o solo, as máquinas, a casa. Muitas vezes perderam a dignidade e a vontade de viver. E temos que retomar isso, trazer ânimo para esses agricultores, pescadores, quilombolas, assentados e indígenas, uma vez que ainda tem gente com água dentro de casa”, disse.
Fonte: Emater/RS-Ascar