A tragédia climática que afeta o Rio Grande do Sul, principal estado produtor de arroz do Brasil, impacta também a produção do cereal e gera preocupação quanto ao abastecimento do país. Mais de 22,9 mil hectares de arroz já foram perdidos durante as chuvas e enchentes, a maioria na região central do Estado, e 17,9 mil hectares ainda estão parcialmente submersos, de acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
As entidades do setor ressaltam que a situação não deve resultar em desabastecimento. A maior parte da safra gaúcha já foi colhida antes desses fenômenos climáticos, com produtividades bastante satisfatórias. A estimativa é de que a produção estadual alcance 7,1 milhões de toneladas, um pequeno recuo em relação à safra passada, quando o estado colheu 7,2 milhões de toneladas de arroz.
A catástrofe climática que assola o Rio Grande do Sul não impõe qualquer ameaça ao abastecimento de arroz à população brasileira.
Federarroz, Fearroz, Sindapel e Sindarroz
“A possível diminuição da disponibilidade de arroz em razão das perdas de produtores afetados pelas enchentes que assolam o Estado será, inevitavelmente, compensada pelo incremento da importação e perda de competitividade do arroz brasileiro no Mercado externo […]. Reforçamos, desse modo, o entendimento de que a catástrofe climática que assola o Rio Grande do Sul não impõe qualquer ameaça ao abastecimento de arroz à população brasileira”, afirmam em nota entidades representativas dos produtores e indústrias gaúchas.
Diante disso e do avanço da área de arroz em outros estado no país, a produção nacional deve fechar em torno de 10 milhões de toneladas, de acordo com Evandro Oliveira, consultor de mercado da Safras e Mercado. “O que tem que ficar claro nesse momento é que esses impactos que nós estamos vendo agora já eram projetados no início do plantio, no início da temporada, quando se confirmou uma temporada de fenômeno de El Niño de forte intensidade. Ele é característico por perdas médias acima de 10%, isso já era falado desde o início da temporada”, ressalta.
Estoques
A expectativa de queda nas exportações é sustentada também pela baixa oferta, o que aumenta a disponibilidade de arroz para o mercado interno. “Nós iniciamos essa temporada com os menores estoques em quase duas décadas, esse era um fator de grande preocupação. Rumores indicam que nós começamos essa temporada comercial com menos de 500 mil toneladas na mão de produtores industriais. Então são estoques bastante apertados, o suficiente para menos de um mês de beneficiamento”, afirma Oliveira.
Importações
O Governo Federal publicou uma medida provisória autorizando, em caráter excepcional, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a importar até um milhão de toneladas de arroz beneficiado ou em casca para recomposição dos estoques públicos. O governo afirma que o objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país.
Na primeira etapa, o leilão de compra da Conab será para 200 mil toneladas de arroz, que devem ser importados dos países vizinhos do Mercosul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, e eventualmente da Bolívia. Esses países são as principais origens do arroz importado Brasil, porém eles também enfrentam problemas climáticos e devem reduzir as exportações. Outras fontes, como a Ásia, estão sendo consideradas, mas Oliveira ressalta que os volumes oriundos do continente asiático são excepcionais, já que não é comum o Brasil importar grandes volumes.
Desafios à produção
Nesse contexto, há um debate em torno das medidas a serem adotadas para garantir o abastecimento e manter a sustentabilidade da produção de arroz no Brasil. Enquanto o governo considera ampliar as importações, especialistas e entidades do setor defendem que o foco deve ser no incentivo à produção interna, com medidas que reduzam os custos de produção e facilitem o acesso a insumos e financiamento para os produtores.
O grande problema desse momento para os preços do arroz é uma questão de custos de produção e escoamento.
Evandro Oliveira, consultor de mercado da Safras e Mercado
“Essa medida vai prejudicar os produtores que já têm dificuldade com o escoamento em uma temporada com queda nas exportações, como vai ficar a renda dos produtores? […] Isso tem que ser discutido, o melhor escoamento da produção gaúcha. O grande problema desse momento para os preços do arroz é uma questão de custos de produção e escoamento […]. Então, importar mais arroz de fontes caríssimas está longe de ser a solução nesse momento para a cultura do arroz”, avalia o consultor.
A situação atual do mercado de arroz no Brasil reflete não apenas desafios imediatos, como perdas na safra e aumento das importações, mas também questões estruturais, como a necessidade de incentivar a produção interna e garantir o acesso da população a alimentos básicos a preços acessíveis.