Tabaco

Produzindo Certo e BAT Brasil querem auxiliar 12 mil produtores de tabaco no Sul do país

Trabalho em conjunto que visa produção sustentável já atendeu 1.400 propriedades e planeja expansão nos próximos três anos

Foto de plantação de tabaco.
Fiscais da Secretaria da Agricultura, sob a orientação do Mapa, monitoram as pragas orobanche e mofo-azul na cultura do tabaco | Foto: Divulgação/Seapdr

Dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) mostram que o número de parceiros e arrendatários na produção de tabaco no país registrou aumento de 13,6%, chegando a 45.528 famílias. A atividade está concentrada na região Sul, correspondente a 95,4% da área nacional, liderada por Rio Grande do Sul (42,4%), Santa Catarina (31,7%) e Paraná (25,8%).

Na safra 2023/24, segundo a entidade, o valor bruto total da produção de tabaco no Sul cresceu 15,1% e se aproxima de R$ 11 bilhões, com elevação do valor médio e do volume total colhido. Já a renda per capita total do produtor aumentou 3,8%, chegando a R$ 39,1 mil ao ano. Ainda na mesma região do país, a participação do tabaco no valor geral obtido nas propriedades aumentou de 53,8% para 59,1%.

No mês de março, a feira Expoagro Afubra 2024 foi palco para discutir a representatividade da cultura à agricultura familiar. Na ocasião, Marcilio Laurindo Drescher, presidente da associação, afirmou que a produção de tabaco é fator decisivo aos agricultores do Sul do país. No entanto, para garantir boa renda em pequenas áreas é preciso saber lidar com os fatores climáticos e aderir a um manejo sustentável.

É dentro deste contexto que uma parceria entre a agtech Produzindo Certo e a BAT Brasil – do mesmo grupo da British American Tobacco (BAT), multinacional controladora da Souza Cruz – pretende intensificar o manejo sustentável do tabaco no Sul e contemplar cerca de 12 mil produtores fornecedores da companhia nos próximos três anos.

Tabaco no radar do compliance

A colaboração entre as duas empresas começou com um projeto piloto, em 2022, envolvendo 52 propriedades distribuídas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Já no segundo semestre de 2023, houve a expansão para 1.400 propriedades, cuja atuação vai desde a coleta de informações sobre as práticas agrícolas até um plano de ação para estar em conformidade com questões de compliance e ESG.

“Ainda que esses produtores sejam bem assistidos agronomicamente, estamos levando assistência técnica com o olhar da sustentabilidade”, diz Aline Locks, CEO da Produzindo Certo, em entrevista ao Destaque Rural. Neste sentido, ela destaca a orientação quanto ao local correto de armazenagem de defensivos agrícolas, documentos relacionados à outorga para uso da água, regras em relação ao canteiro de mudas e toda a questão do combate ao trabalho infantil dentro da agricultura familiar.

Quando a Produzindo Certo vai até uma propriedade rural para fazer o levantamento das informações, as etapas que mais têm entrado em não-conformidade são a licença e uso do porte de motosserra, a gestão dos resíduos sólidos e a sinalização da parte de saúde e segurança aos funcionários.

Por se tratar, muitas vezes, de uma atividade de pequena escala, também são encontradas inconformidades nas regras de trabalho para formalizar a contratação de diaristas em determinados períodos da safra.

“Fazemos um diagnóstico bem detalhado da propriedade, olhamos o solo, se tem erosão, a análise de água, vegetação nativa e essa questão social. Tudo para que o proprietário consiga ter um plano de ação e começar a se regularizar”, conta Aline. Então, os orientadores da Produzindo Certo geram um diagnóstico da fazenda, entre boas práticas e legislação, e é estipulado um cronograma de um ano de execução das melhorias.

A executiva explica que a contratação da agtech é feita majoritariamente pelas companhias, como, neste caso, pela BAT Brasil. A assistência técnica é fornecida pela Produzindo Certo, mas a responsabilidade financeira das melhorais e regularizações são do proprietário rural.

Sustentabilidade é negócio comercial

O modelo de negócio gerido por Aline Locks ganha proporção no Sul do país após anos de atuação no Centro-Oeste. Atualmente, a empresa atua em cerca de 7,5 milhões de hectares no país e cerca de 7.600 produtores atendidos, além de um projeto piloto em outros países da América do Sul.

Enquanto a Produzindo Certo se enquadrava como organização sem fins lucrativos, foram 1.200 propriedades atendidas entre 2006 a 2019. “Depois que começamos a olhar a sustentabilidade como forma comercial, chegamos a mais de 7 mil propriedades em quase cinco anos. É uma demanda crescente democratizar assistência técnica com pilar da sustentabilidade e transparência aos parceiros”, ela afirma.

Entre as parcerias da agtech constam companhias como Corteva, Nestlé, Unilever, Cargill, além de a empresa apoiar nos processos para a certificação internacional Round Table on Responsible Soy Association (RTRS) em cooperativas como Castrolanda e Integrada.