Decidir uma carreira não é tarefa fácil. Ainda mais em um mundo em permanente transformação, onde todos os dias profissões somem e outras surgem, muitas vezes sem profissionais qualificados para exercer esses novos postos de trabalho. A crise climática será uma das forças de transformação do mercado de trabalho. Agricultura, arquitetura, ciência e direito são alguns dos setores que precisarão de novas habilidades “verdes”, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Segundo um estudo de 2021 do Fórum Econômico Mundial, quase metade dos jovens sente que não tem as habilidades adequadas para trabalhar em um futuro contexto de economia verde. O Fórum estima ainda que aproximadamente 40% dos trabalhadores atuais precisarão ser requalificados para ocupar os empregos verdes do futuro.
Mas moldar essas decisões pode ser complicado, já que muitos desses empregos futuros ainda não existem. Por isso o PNUMA criou um guia para ajudar os jovens a fazer escolhas de carreiras sustentáveis em seis áreas principais, além de indicar quais habilidades serão valorizadas pela indústria verde das próximas décadas. Confira um resumo:
Agronomia
À medida que a agricultura e o fornecimento de alimentos se tornam mais sustentáveis, haverá um número crescente de empregos verdes em áreas como a agricultura orgânica (alimentos cultivados sem agrotóxicos ou fertilizantes industriais); a agricultura urbana (produção em sobras de terrenos de imóveis públicos e privados, em áreas de várzea e em novos cinturões verdes mais próximos às cidades); agrofloresta (que junta o reflorestamento ou a conservação de florestas à produção agrícola e pecuária. Veja aqui um exemplo); e a agricultura de precisão (aplicação de insumos em quantidades menores e com o uso de dados para medir e melhorar a eficiência agrícola).
Direito
Em todos os países, cresce a judicialização de questões ambientais e climáticas, inclusive com grupos de cidadãos que processam empresas e governos por agravarem a crise climática global. Juristas especializados em Clima e meio ambiente terão cada vez mais visibilidade no campo do Direito. Os trabalhadores neste setor operarão na interseção dos direitos humanos e ambientais. A habilidade-chave para esse novos empregos jurídicos será uma maior consciência social e histórica para garantir que a humanidade não repita os erros do passado que levaram à injustiça racial e social e climática de hoje. Um exemplo: a Universidade Federal de Santa Catarina mantém um Observatório de Justiça Ecológica, vinculado ao Programa de Pós-graduação em Direito.
Arquitetura
Os edifícios terão que se tornar mais eficientes no uso de energia e água e deverão demandar menos recursos durante a construção e em sua manutenção. Isso significa que arquitetos, planejadores e designers terão que compatibilizar em suas obras
regulamentações ambientais e as exigências dos clientes por espaços mais verdes. É um novo tipo de arquitetura, que exige criatividade para reciclar e reaproveitar recursos e espaços. Um exemplo é o retrofit, tendência no exterior que vem crescendo em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ciência e educação
Poucas áreas são tão importantes para o futuro do planeta como a produção científica. Não existe sociedade humana que tenha se desenvolvido e gerado bem-estar para a população sem ter investido em produção de conhecimento básico e aplicado. A economia verde do futuro será fortemente dependente de trabalhadores com uma forte formação científica.
Os papéis-chave incluirão cientistas ambientais, biólogos, hidrólogos, meteorologistas, climatologistas, bioquímicos, professores e divulgadores científicos. As pessoas nessas funções irão monitorar, gerenciar e proteger os recursos naturais, incluindo a terra e o valioso abastecimento de água, além de formar pessoas nesses campos.
Para iniciar uma carreira científica, o estudante precisa fazer mestrado e doutorado ou o chamado doutorado direto, o que depende de investimentos nas universidades e centros de pesquisa. É possível também começar uma carreira nas ciências ainda na graduação – entenda aqui.
Engenharia e tecnologia verdes
Os jovens de hoje serão os engenheiros verdes de amanhã, ajudando a projetar e manter painéis solares, turbinas eólicas, veículos com baixas emissões e outras tecnologias de economia verde. Esses profissionais também estarão envolvidos na criação de múltiplos modelos de superbaterias que possam aumentar a eficiência energética e reduzir a necessidade de mais produção de energia.
Economia e gestão de projeto
A economia verde precisará de trabalhadores que possam projetar, operar e monitorar uma ampla gama de sistemas. Eles precisarão avaliar os sistemas em relação aos indicadores de desempenho e encontrar maneiras de otimizar e melhorar as operações. Esses profissionais terão conhecimento em macroeconomia para construir a sustentabilidade em projetos de infraestrutura de longo prazo. Um exemplo: sistemas de economia circular.
Por Cinthia Leone (Climainfo)