Estiagem, alta nos custos de produção e exportações de carne bovina foram os temas debatidos durante o Mercado em Destaque desta semana
A recorrente falta de chuvas no Rio Grande do Sul tem tornado crítica a situação das pastagens. Segundo dados da Emater/RS-Ascar, muitas espécies de forrageiras já não suportam o pastejo e essa redução na oferta de pastagens tem feito com que muitos produtores aumentem o uso de silagem e feno; ou até ajustem a lotação de animais a campo.
Diante desse quadro, o primeiro Mercado em Destaque do ano, conversou com o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Guilherme Malafaia sobre impacto da estiagem para a bovinocultura e custos de produção. “Essa estiagem impacta muito na qualidade da forrageira e isso gera um déficit energético para os animais; em especial, para o produtor que trabalha com a questão de engorda, de terminação”, explica.
“O que demanda uma necessidade de se fazer um adicional em termos de suplementação; cabe salientar que basicamente a grande porcentagem da produção brasileira é dentro de sistemas intensivos, a pasto”; e ainda “no momento que você tem esse déficit energético em termos de disponibilidade de forrageira é muito importante você fazer um bom manejo dos seus sistemas de produção; como ajustar lotação e dar a suplementação necessária para o animal manter o peso”, acrescenta Malafaia.
O pesquisador ressalta que é importante ter planejamento para minimizar os efeitos da estiagem. “Fazer um diferimento de área, separar algumas áreas para casos de extrema necessidade de pasto”, sendo necessário “uma boa gestão de sistemas de produção para poder minimizar os efeitos climáticos”, frisa.
Mercado interno
Ao longo de 2021 houve uma menor disponibilidade de animais para abastecer o mercado doméstico, por conta do ciclo pecuário e do clima adverso nos principais polos produtores do país; situação que também foi evidente em 2020.
“No momento que o preço do bezerro está valorizado, o produtor retém as vacas para produzir mais bezerros e se beneficiar da valorização da cria. Essa retenção de fêmeas gera uma menor disponibilidade de vacas para o abate, e isso acaba acarretando em uma diminuição na oferta de animais; fazendo o preço da arroba valorizar. Isso, juntamente com uma demanda externa forte, gera aumento do preço da carne que chega na ponta”, explica Malafaia.
O clima adverso associado, logicamente, aos elevados custos de produção, torna a reposição mais cara para o terminador, para a indústria e para o consumidor final. “Estamos em um período de transição de ciclo pecuário que começou em 2019, e, nós já prevemos algum aumento da disponibilidade de animais em 2022. Já notamos o aumento do abate de vacas (que é basicamente o que abastece o nosso mercado interno); porém, esperamos essa reversão mais forte no ciclo pecuário em 2023”, afirma Malafaia.
“Para 2022 creio que a situação não vai variar muito em torno disso; embora mais fêmeas tenham sido abatidas este ano e a oferta de bezerros tenha aumentado”, frisa.
Exportações de carne bovina
Segundo relatório da Embrapa, no acumulado do ano as exportações brasileiras de carne bovina atingiram 1,6 milhão de toneladas, uma queda de 2,4% em relação ao mesmo período do ano passado. Porém, em receitas houve um crescimento no mesmo período de 16% com o produto mais caro no mercado global.
O patamar elevado de preços da arroba do boi gordo manteve-se no primeiro semestre acima dos R$ 300,00. Os problemas para os produtores se agravaram em setembro, quando a China (que importou 50% de 1,27 milhão de toneladas exportadas pelo Brasil no período de janeiro a setembro) suspendeu as importações do Brasil depois de dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (EBB), conhecida como a doença da vaca louca.
Isso teve um impacto negativo significativo nas exportações brasileiras de carne bovina, nos últimos meses, (menos 43% no volume e 31% na receita); com alguns produtores operando em níveis bem abaixo da capacidade. “Nós acreditamos que para 2022 deverá permanecer a mesma situação de embarques para o mercado asiático, especialmente para a China que é um grande parceiro comercial do Brasil em termos de demanda de proteína animal. A expectativa é de uma redução na produção de suínos na China, o que dá oportunidade ao Brasil de aumentar os embarques”, aponta o pesquisador da Embrapa Gado de Corte.
O último relatório do USDA, aponta até 2030 o Brasil será o maior exportador de proteína vermelha do mundo. “Todos os cenários estão se encaminhando para essa direção, temos todas as condições de sermos os protagonistas globais da oferta de carne bovina”, finaliza Malafaia.
Texto: Larissa Schäfer