Se na safra 2020/21 a demanda fragilizada pela covid-19 pressionou os valores dos etanóis, mesmo diante da menor produção, na atual temporada (2021/22), o clima desfavorável e a quebra de produção impulsionaram os preços do anidro e do hidratado, que atingiram patamares bastante acima dos praticados em temporadas anteriores.
Considerando-se a parcial (de abril a dezembro) das últimas 23 safras, as médias dos preços registradas em 2021/22 para os etanóis anidro e hidratado são as maiores de toda a série histórica do Cepea iniciada em 2000, em termos reais (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-M de dezembro/21). De abril a dezembro de 2021, o valor médio do anidro foi de R$ 3,6218/litro e o do hidratado, de R$ 3,2039/litro, em termos reais. As segundas maiores médias foram verificadas na parcial do ano-safra 2011/12, quando atingiram R$ 3,4479/litro no caso do anidro e R$ 3,8287/litro no do hidratado.
Ao longo da safra 2021/22, as quedas na produção de açúcar e de etanol hidratado foram grandes em toda a região Centro-Sul, em decorrência de quebra de safra (que inclusive resultou em antecipação do final da moagem) e do aumento da produção de anidro. Segundo dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), do início da safra 21/22 (em abril/21) até 16 de dezembro, a produção de açúcar somou 32,02 milhões de toneladas, queda de 16,1% frente ao mesmo período do ciclo 2020/21. No caso do etanol, enquanto a produção de anidro cresceu 12,6%, totalizando 10,75 bilhões de litros, a de hidratado caiu 20,2%, somando 15,66 bilhões de litros. Ainda em relação à oferta, vale mencionar aqui o elevado aumento da produção de etanol de milho, que totalizou 2,413 bilhões de litros de abril/21 até 16 de dezembro.
A menor produção de etanol hidratado elevou os preços, causando redução da demanda, e resultou em volume de negócios limitado no spot em boa parte da safra. Nesse sentido, compras foram feitas de maneira pontual por parte das distribuidoras, que, por sua vez, registraram menores vendas na ponta varejista. Com a relação de preço entre o biocombustível e a gasolina mais vantajosa para o combustível fóssil, as vendas de gasolina C nas bombas cresceram em detrimento das do etanol.
Na parcial da temporada (de abril/21 até a primeira quinzena de dezembro/21), as vendas de hidratado total (mercados interno e externo) das usinas do Centro-Sul somaram 12,29 bilhões de litros, volume 33,9% inferior ao do mesmo período de 2020, segundo dados da Unica. As vendas de anidro, por sua vez, cresceram 12,9%, somando 7,738 bilhões de litros em igual período.
Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostram que a relação média entre o preço do etanol hidratado e o da gasolina C foi de 76,5% de 1º de abril de 2021 até o dia 24 de dezembro em São Paulo. Em média, nesse período, a gasolina C custou R$ 5,727/litro e o etanol, R$ 4,392/litro nas bombas paulistas. A diferença absoluta entre os dois combustíveis chegou a ser de 1,335 Real/litro no balanço da parcial da safra 21/22.
A menor oferta de etanol também limitou as exportações brasileiras. Segundo dados da Secex, de abril a novembro de 2021, o volume de etanol embarcado foi de 1,258 bilhão de litros, forte recuo de 43,3% em relação ao mesmo período da safra anterior (2,217 bilhões de litros). A receita gerada foi de US$ 705,8 milhões, 25,2% menor que a do mesmo período da safra 2020/21 (US$ 944 milhões).
Quanto às importações, diante do fim da medida governamental que permitia a compra externa de etanol sem taxas em 2020 e do dólar elevado, o volume de etanol importado pelo Brasil caiu em 2021. As importações de etanol na safra 2021/22 (de abril a novembro de 2021) somaram 157,72 milhões de litros, forte retração de 48,65% frente às do mesmo período da temporada anterior (307,13 milhões de litros no mesmo período). O Paraguai foi o principal país fornecedor do Brasil, seguido pelos Estados Unidos. Do volume importado, 63,51% foram recebidos nos portos do Norte e 36,49%, do Nordeste, ainda segundo a Secex.
NORDESTE
A safra 2021/22 se iniciou na Paraíba na segunda quinzena de julho e, em Pernambuco e Alagoas, em setembro. Neste ano-safra, não foram observadas vendas antecipadas no início da temporada, uma vez que as usinas se mostraram mais capitalizadas para começar a moagem. Além disso, os preços acompanharam, assim como no Centro-Sul, os avanços nas cotações da gasolina A realizadas pela Petrobras.
Na parcial da temporada 2021/22 (de agosto/21 a dezembro/21), o preço médio do hidratado em Pernambuco foi de R$ 3,0985/litro, 22,67% acima do registrado no mesmo período da safra anterior, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-M de dezembro/21). Para o anidro, houve forte alta de 23,35% na mesma comparação, chegando a R$ 4,1127/litro. Em Alagoas, a média do preço do hidratado subiu 24,18% (a R$ 3,1124/litro) e a do anidro, 24,23%, (a R$ 4,1270/litro). Na Paraíba, o valor médio do etanol hidratado foi de R$ 3,1687/litro, elevação de 25,66%, e o do anidro, de R$ 4,1390/litro, aumento de 24,19%.