Um dos primeiros projetos de negócios sustentáveis na região amazônica a serem desenvolvidos pelo Instituto Amazônia+21 será o de biogás, produção de combustível verde proveniente da decomposição de resíduos orgânicos. E como a geração de energia elétrica, térmica e veicular pode ser feita aproveitando, entre outros materiais, os restos da bovinocultura, o Mato Grosso oferece as condições para os próximos passos do projeto. Mesmo porque o estado já desenvolve, há dois anos, o Fazenda Pantaneira Sustentável, projeto-piloto criado para auxiliar produtores rurais locais a se desenvolverem economicamente na região de forma sustentável.
Segundo a Embrapa, o Pantanal é o bioma mais preservado do Brasil, por manter cerca de 84% de sua paisagem original. E isso se mantém por conta da convivência entre produtores e natureza, já que o estado é forte em criação de bovinos, mas se aproveita de campos fartos e pastagens nativas. Neri Geller, deputado federal pelo PP de Mato Grosso e vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, destaca que iniciativas como a do Instituto Amazônia+21, que pretendem fazer a ligação de investidores com potenciais negócios sustentáveis, são necessárias não apenas para preservar o ambiente, mas também para desenvolver a economia verde local e fortalecer o comércio com o exterior.
“É extremamente importante para a economia do estado, é importante pra questão do desenvolvimento socioeconômico, para gerar emprego, renda, oportunidade de vida. Então, é muito importante que a gente consiga fazer essa comunicação daqui para fora, que nós não somos degradadores do meio ambiente, não, a gente trabalha dentro da legislação mais exigente do mundo e é assim que a gente quer ser visto lá fora”, ressalta.
O projeto Fazenda Pantaneira Sustentável, lançado entre 2018 e 2019, é uma cooperação entre a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e a Embrapa Pantanal. A ideia, nos cinco anos da iniciativa, é fazer diagnósticos ambientais, sociais e econômicos em cada uma das 15 propriedades rurais assistidas, localizadas em cinco municípios do estado: Poconé, Cáceres, Rondonópolis, Itiquira e Barão de Melgaço.
Ida Beatriz Machado, presidente do Sindicato Rural de Mato Grosso, explica que o projeto emprega tecnologia para avaliar o potencial da atividade pecuária no Pantanal, de modo que a produção se ampare nos pilares da sustentabilidade, uma vez que é necessário preservar o equilíbrio deste bioma. “Como é que nós podemos trabalhar no Pantanal com a forma que ele está hoje? Então, nós trabalhamos com essa preocupação, com a nossa equipe, com toda a tecnologia envolvida, para melhorar exatamente as questões econômicas, sociais e ambientais. Porque nós sabemos que quando a gente não tem uma estrutura econômica plausível, nós não conseguimos realmente tocar nem o social, nem o ambiental.”
A presidente do sindicato ressalta que a biodiversidade do estado só tem a ganhar com iniciativas como o Amazônia+21, que pode identificar outros negócios sustentáveis na região, e o Programa Pró-Pantanal, lançado recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Sebrae – iniciativa que visa ações de apoio aos empreendimentos com gestão e produção sustentável. “Não estamos com a produção de biogás ainda, mas estamos estruturando parcerias com o Sebrae Sustentabilidade, que trabalha com biogás, biocultura. E o projeto do Amazônia+21 tem tudo a ver com a nossa realidade”, destaca Ida.
Como diversas fazendas já trabalham com os princípios de sustentabilidade em Mato Grosso, vai ser ainda mais fácil aplicar no estado a produção do biogás, um dos primeiros projetos do Instituto Amazônia+21 e que deve gerar parcerias já em 2022. Segundo estudo do Instituto Escolhas, publicado em agosto. Mato Grosso tem potencial para gerar 77 milhões de metros cúbicos de biogás por ano, o suficiente para gerar 160 GWh de eletricidade e abastecer 80 mil residências. Isso beneficiaria mais de 260 mil pessoas, o equivalente a 40% da população da capital, Cuiabá.
Além das sobras de abatedouros de bovinos e demais produções da bovinocultura, Mato Grosso ainda tem outra abundante matéria-prima para a geração de biogás: a piscicultura. O estado é o segundo maior da Amazônia em potencial de produção do combustível verde pelo abate de peixes, podendo gerar, só neste setor, 1,5 milhão de metros cúbicos de biogás por ano, o equivalente à 3 GWh de eletricidade, que poderia servir, por exemplo, para abastecer as necessidades de todos os frigoríficos.
ESG e Economia Verde
O Instituto é voltado para fomentar novos modelos de negócios capazes de promover o desenvolvimento sustentável nos estados da região amazônica. A ideia é proteger a biodiversidade com adoção de práticas produtivas de baixa emissão de gases poluentes e alinhadas com as metas estabelecidas pela chamada economia verde, apoiada em três pilares: ambiental, social e governança (da sigla em inglês ESG).
O estado de Mato Grosso começou a investir na questão ambiental em 2006, antes do Código Florestal, com o projeto “Lucas do Rio Verde Legal”. A iniciativa tinha investimento privado e contava com a parceria da prefeitura de Lucas do Rio Verde com produtores rurais para adequar propriedades à legislação ambiental e ajudar a recuperar áreas de preservação permanente.
Karen Oliveira, gerente para Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC Brasil, organização não governamental que atua há 30 anos na Amazônia, explica que o mercado mundial está cada vez mais atento à economia verde, ou seja, produtos provenientes de empreendimentos que se preocupam com as questões sociais e ambientais.
“Quando a gente fala da economia verde nós estamos nos baseando numa economia que não é intensiva em carbono, o que a gente chama de uma transição para uma economia de baixo carbono, baseada no uso sustentável da floresta e que respeita os povos da floresta, respeitas as comunidades tradicionais, respeita os indígenas que vivem nessa região e que busca conciliar desenvolvimento com conservação”, explica Karen.
A ideia do Instituto Amazônia+21 é que as federações de indústria, em cada um dos estados da Amazônia Legal, possam levantar dados como a quantidade de resíduos sólidos daquela região, quais as possibilidades apresentadas e que usinas de geração de biogás podem ser construídas no local. Outro projeto inicial do Instituto é a integração da lavoura e da pecuária com a floresta.
A presença física do Instituto nos estados será feita por meio das federações de indústria, como a FIEMT, no Mato Grosso, e o site da iniciativa será lançado em breve, onde os produtores e possíveis investidores terão acesso a mais dados e informações sobre os projetos idealizados.
Fonte: Brasil 61