Por Ricardo Zanella, Professor do curso Medicina Veterinária e do Programa de Pós-Graduação em BioExperimentação, da Escola de Ciências Agrárias Inovação e Negócios, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS.
Por muitos anos as granjas produziam os seus próprios animais de reposição, e foi em 1990 que este conceito acabou sendo substituído, principalmente pela intensificação no uso da Inseminação Artificial e impulsionada pela importação de animais. Este processo facilitou a aquisição de indivíduos geneticamente superiores para serem usados na reprodução, aumentando assim o interesse das empresas do ramo no mercado brasileiro.
Este foi um dos catalisadores do progresso genético dos suínos observados aqui no Brasil, aonde a busca constante por fêmeas mais prolíferas, com uma melhor conversão e menor porcentagem de gordura na carcaça veio acompanhado de algumas características indesejadas. No passado, vivenciamos um problema relacionado com a presença do gene do Halotano nos plantéis, que resultava na morte súbita quando estes eram estressados, além de afetar a qualidade da carne.
Isto forçou a indústria e os produtores a removerem indivíduos carreadores, para a eliminação desta variação alelica na população. No entanto, esta era uma característica fácil de ser trabalhada, pois era controlada por somente um gene (Monogênica). Atualmente, estamos vivenciando um aumento nos números de descartes involuntários nos animais associados, principalmente a problemas locomotores, prolapsos uterinos e falhas reprodutivas. Todas estas características de ação poligênica com diferentes níveis de herdabilidades, principalmente moduladas pelo efeito ambiental e da genética dos animais e suas interações.
A grande pressão de seleção imposta na produção dos animais para elevados GPDs (Ganho de Peso Diário) fez com que a estrutura óssea dos mesmos não acompanhasse o seu desenvolvimento muscular, resultando em problemas locomotores. Quando falamos em claudicação temos principalmente uma diminuição na longevidade deles, reduzindo a eficiência da produção dos rebanhos comerciais e principalmente causando um problema de bem-estar animal.
Atualmente na criação suinícola de forma intensiva, a claudicação está se tornando cada vez mais uma preocupação, pois ela é um importante fator limitante da produção, responsável por enormes perdas econômicas para a indústria em todo o mundo. Os extremos que evidenciamos na produção animal na maioria das vezes acabam não sendo o ideal.
A busca pelo maior número de suínos nascidos por leitegada vem resultando em menores pesos individuais dos animais e consequentemente uma diminuição na taxa de nascidos vivos e de leitões desmamados. Esse fato acontece em decorrência principalmente das fêmeas terem um número limitado de tetas, o que consequentemente força os produtores a realizar o Cross-fostering ou utilizar protocolos de indução à lactação em fêmeas vazias.
Outro ponto muito importante a ser mencionado é que o mundo vem vivenciando esta alteração dos conceitos na criação de suínos, onde que as definições de raças puras acabaram sendo substituídas por linhagens. Estas podem ser oriundas de diversos cruzamentos para a maximização da genética individual dos animais, principalmente para a obtenção de melhores índices relacionados com a heterose individual, que está diretamente correlacionada com o vigor híbrido.
Todavia o melhoramento genético nas granjas núcleos continua sendo realizado em grade parte nas raças puras, no entanto, a avaliação dos animais acontece com os indivíduos cruzados. Aliado a isto, as condições ambientais (manejo, instalações, clima e nutrição) em que eles são criados aqui no Brasil, acabam sendo diferentes das que os seus genitores foram criados, tendo em vista que grande parte do material genético de suínos existente aqui é importado.
Desta forma, os animais acabam não conseguindo expressar todo o seu potencial genético, sem falar na elevada taxa de mortalidade dos reprodutores importados, que podem superar 16%. Diante deste cenário, a busca por exemplares mais equilibrados acaba sendo uma alternativa para a implementação da produção suinícola brasileira. Além disso, aqueles já adaptados ao nosso clima, manejo e instalações, acabam conquistando uma grande vantagem, vindo ao encontro da maximização da utilização dos animais, principalmente pelos elevados custos atuais relacionados com a reposição das fêmeas.
Neste modelo, o produtor adquire as matrizes comerciais equilibradas (boas mães), adaptadas ao nosso sistema de criação, para serem cruzadas com reprodutores de elevados EBVs (Estimated Breeding Value), também conhecido por Valor Genético. A Afrodite é uma matriz da TopGen, que está sendo selecionada aqui no Brasil há mais de 30 anos para características de linha fêmea, sem prejudicar as qualidades de carcaça e de saúde animal incluindo baixos índices de prolapsos.
O seu nome já diz tudo, a linhagem das fêmeas Afrodite é conhecida por ser excelente mãe, além disso, são mais rústicas e isso confere a elas um aparelho locomotor bastante robusto. Esse conjunto contribui para sua maior longevidade e um aparelho mamário uniforme com no mínimo oito pares de tetas viáveis, sem falar na sua docilidade que facilita o seu manejo diário.
O Destaque Rural já abordou a temática das “Raças crioulas de suínos: entre o potencial e o risco de desaparecer” com o professor Ricardo Zanella. Para conferir esta reportagem basta acessar a página do Destaque Rural no YouTube ou clicar no vídeo abaixo.