O assunto pode parecer complexo e utilizar palavras difíceis. Mas, na verdade, o trabalho desenvolvido pelo Laboratório de Microbiologia Agrícola do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) é de fácil entendimento e fundamental para o desenvolvimento da pesquisa e da produção agrícola gaúcha. O setor disponibiliza mais de mil estirpes de rizóbios eficientes na fixação biológica de nitrogênio para cerca de 200 leguminosas de importância agrícola. Este banco faz parte da coleção SEMIA, o mais completo banco de germoplasma oficial de rizóbios da América Latina (mais informações sobre a coleção abaixo). Os rizóbios são um tipo de bactéria fixadora de nitrogênio, que conseguem estabelecer uma simbiose com as leguminosas, tornado-as mais eficientes e deixando o solo mais rico em nitrogênio.
As indústrias que demandam este material são de diversos estados, como Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e Mato Grosso. Só nos últimos cinco anos, foram comercializadas cerca de 300 bactérias. A indústria, por lei, precisa comprar anualmente estas estirpes de rizóbios para produção de inoculantes, disponíveis na forma turfosa e líquida e que serão misturados nas sementes das plantas. O Laboratório é certificado pelo Mapa desde 2017 para a realização deste trabalho.
Mas o que são os inoculantes? São produtos que contém grande quantidade de bactérias que fazem muito bem às lavouras, intensificando o processo natural da fixação biológica de nitrogênio, através do qual bactérias que vivem no solo se associam às plantas, captam o nitrogênio do ar e o transformam em alimento para a planta. As indústrias compram estas bactérias em estado de dormência, fazem a sua multiplicação e as transformam em produtos para os agricultores colocarem nas plantas. O mercado oferece inoculantes líquidos, géis, turfosos e outras formulações.
As estirpes de rizóbios mais demandadas pela indústria são para os inoculantes de soja, cerca de 60%, feijão com 12%, feijão miúdo e de corda com 5%, cornichão 4%, amendoim 3% e outras leguminosas como alfafa, grão-de-bico e trevo com 2% ou menos.
As quatro estirpes recomendadas para a cultura da soja são a SEMIA 587 e SEMIA 5019 (Bradyrhizobium elkanii), SEMIA 5079 (Bradyrhizobium japonicum) e SEMIA 5080 (Bradyrhizobium diazoefficiens). A disseminação de estirpes eficientes e a difusão da prática da inoculação tiveram significativa contribuição, principalmente para a alta produtividade média da soja no Brasil.
“Os rizóbios responsáveis pela fixação de nitrogênio trazem benefícios para todas as áreas cultivadas brasileiras, principalmente para a lavoura de soja, resultando numa economia de aproximadamente US$ 12 bilhões/ano em decorrência da não utilização de fertilizantes nitrogenados”, afirma Anelise Beneduzi da Silveira, coordenadora do Laboratório de Microbiologia Agrícola.
Segundo ela, o Brasil pode se orgulhar de ocupar a liderança no aproveitamento dos benefícios dos inoculantes para a soja. “A tendência moderna no cultivo de leguminosas é a utilização cada vez mais intensa dos inoculantes por serem produtos naturais, altamente eficientes e com relação custo-benefício muito favorável para o lado do benefício”, afirma Anelise. Atualmente, além dos rizóbios, o DDPA também pesquisa inoculantes para acácia-negra, erva-mate, feijão, leguminosas forrageiras e gramíneas.
Pesquisadora Anelise Beneduzi da Silveira no Laboratório de Microbiologia Agrícola – Foto: Fernando Dias/Seapi
A história do Laboratório
A história deste serviço prestado pelo Laboratório de Microbiologia começou na década de 1950, com o professor João Rui Jardim Freire, do extinto Instituto de Pesquisas Agronômicas. O Ipagro desenvolveu pesquisas para a seleção de estirpes de bactérias, rizóbios, e a produção de inoculantes, atendendo a uma demanda motivada pelo início da expansão da cultura da soja e estimulada por indústrias do setor agrícola. O objetivo era formular produtos inoculantes para substituir os fertilizantes nitrogenados nas lavouras de soja brasileiras, baixando custos e, aumentando assim, a produtividade. O primeiro lote de inoculantes produzido por uma indústria gaúcha foi no ano de 1956.
A partir de 1980, devido à Lei nº 6.894 sobre inspeção e a fiscalização da produção e comércio de fertilizantes, corretivos, inoculantes, entre outros, o laboratório foi o primeiro e, por décadas, único a ser credenciado junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para análise oficial da qualidade dos inoculantes utilizados no Brasil, principalmente para as lavouras de soja. A partir daí, foram estabelecidas diretrizes quanto a qualidade dos mesmos, de modo que os inoculantes nacionais ou importados devem ter na sua formulação uma concentração mínima de bactérias, serem elaborados em suporte esterilizado e com os microrganismos autorizados e estarem livres de microrganismos não especificados, entre outras características.
”Além da importante participação na elaboração dos protocolos para produção e para análise da qualidade dos inoculantes, o Laboratório de Microbiologia Agrícola também atuou como depositário de estirpes de rizóbios eficientes na fixação biológica de nitrogênio em leguminosas de importância agrícola, o que originou a Coleção SEMIA de Rizóbios, nome dado em decorrência da antiga Seção de Microbiologia Agrícola”, destaca Anelise.
A coleção SEMIA
A coleção tornou-se uma referência nacional para o Mapa, sendo o banco de germoplasma oficial de rizóbios para a produção de inoculantes comerciais, o mais completo da América Latina. A Coleção SEMIA de Rizóbios é responsável tanto pela manutenção, quanto pela distribuição das estirpes recomendadas para utilização em inoculantes comerciais de leguminosas de importância econômica, tais como soja, feijão, amendoim, forrageiras, entre outras. O primeiro registro da Coleção SEMIA foi em 1973, no IBP World Catalogue of Rhizobium Collections, e se encontra registrado no World Data Center on Microorganisms com o número 443. A disponibilização dos dados da Coleção SEMIA está integrada à rede speciesLink.
Atualmente a Coleção SEMIA de Rizóbios também está cadastrada como instituição fiel depositária do patrimônio genético brasileiro no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) e no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen) do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Fonte: Ascom Seapi