Com a retomada dos embarques de carne bovina para a China, surgem especulações sobre um bom ritmo para o mercado externo do boi gordo. O anúncio foi feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na quarta-feira (15). Diante disso, a primeira edição do Mercado em Destaque conversou com a zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Thayná de Andrade.
Os embarques para o país asiático estavam suspensos desde o dia 4 de setembro, quando o Brasil identificou e comunicou dois casos atípicos da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), registrados em Nova Canaã do Norte (MT) e em Belo Horizonte (MG). A suspensão foi feita pelo Brasil em respeito ao protocolo firmado entre os dois países; que determina esse curso de ação no caso de EEB, mesmo que de forma atípica. O que significa que esses animais desenvolveram a doença de maneira espontânea e esporádica; não estando relacionada à ingestão de alimentos contaminados e que não há transmissão da doença entre os animais.
“Os dois casos atípicos de vaca louca acabaram derrubando as cotações e o mercado ficou aguardando; porque na última vez que nós tivemos esses casos atípicos em 2019, a China demorou cerca de duas semanas para voltar as compras. Porém, desta vez foram 103 dias sem o mercado chinês”, explica a analista de mercado.
Mercado comprador
Diante desse cenário, no mês de novembro houve corrida dos frigoríficos para se abastecer para poder atender a demanda de fim de ano, resultando em um mercado mais forte. “Já no começo de dezembro a gente começou a acompanhar o mercado mais frouxo; esperávamos que o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro e as contratações temporárias, conseguissem colaborar para o escoamento no mercado interno, porém não foi isso que a gente viu na primeira quinzena”, ressalta.
Porém, a retomada dos embarques para o país asiático, deixa o os preços mais firmes. “Contudo fechando primeira quinzena, a gente recebeu a grande notícia da retomada das exportações para o mercado chinês, um mercado grande que atendeu nós fortemente nos últimos dois anos. Ou seja, o mercado que estava bem quieto nessa primeira quinzena, com os compradores já abastecidos para atender essa reta final; nós observamos que da semana passada para cá o mercado virou o jogo com a China voltando ao mercado; então aquele cenário de quietude abriu espaço para um mercado totalmente comprador”, explica Andrade.
Boi gordo com Firmeza
Em uma semana, tomando como referência a praça de São Paulo, o boi gordo já teve uma alta de R$ 7,50 pra referência do macho terminado, “destacando o Mato Grosso do Sul, na região de Dourados e de três Lagoas já teve uma alta de quase R$ 12,00 na referência do macho terminado; e outro estado que ganhou destaque nessa última semana foi Minas Gerais com uma alta de quase R$ 10,00 na arroba”, informa.
“Então, se destaca essas altas mais expressivas que a gente acompanhou nessa a última semana com a retomada do mercado Chinês, sem dúvida são as praças exportadoras, que estavam adormecidas, com um mercado doméstico pouco mais lento na primeira quinzena e a gente espera que para os próximos dias com o Natal e Ano Novo deva aquecer aí o consumo aqui no mercado interno, mas por outro lado essa volta do gigante asiático, sendo o nosso principal cliente traz boas expectativas para o mercado, o que deu já essa cara de firmeza”, salienta a zootecnista.
Suspenção
Nesses 103 dias sem o mercado Chinês, o Brasil deixou de exportar em torno de 190 mil toneladas de carne in natura, “e isso corresponde a uma perda de faturamento de um bilhão de dólares”, e no auge da suspenção “chegou a uma queda no mercado, somente em São Paulo, em torno de R$ 60, e estamos vendo preços mais altos do que antes da suspensão, hoje (24) em São Paulo a gente está com um valor de R$ 9,00 a mais para a arroba do boi gordo. Então o mercado chinês tem seu peso e tem sua força”, salienta.
Gigante asiático
Desde 2019, o país tem sido um importante fator de sustentação no mercado do boi gordo, “quando a China está em cena, ela tá comprando mais e a gente observa uma curva maior, um preço mais sustentado para o mercado do boi gordo. E quando ela sai de cena a gente tem uma lacuna bem grande no mercado”, frisa.
É importante destacar que nossas exportações correspondem somente a 30% da produção, 70% fica no mercado interno, mas o interno vem patinando. “Com uma economia mais fragilizada desde do início da pandemia, o pessoal mais em casa, e menos capitalizado, a gente vem de um movimento mais fraco do mercado interno. Então nesses últimos dois anos, casou com o mercado chinês aquecido o que tem colaborado com os preços mais firmes; além dos custos de produção é claro que já vem aumentado há bom tempo”, reforça a especialista.
“Então a tendência para os próximos dias é que o mercado do boi gordo fique firme; mas vamos acompanhar como é que vai ser o desempenho das festividades de fim de ano no consumo do mercado interno”, complementa Andrade.
Confira o preços das commodities.
Texto: Larissa Schäfer