Artigo do chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Marcos Nascimento
O mercado brasileiro de hortaliças é altamente diversificado e segmentado, com dezenas de olerícolas sendo comercializadas e consumidas nas diferentes regiões do País. Grande parte das hortaliças no Brasil é comercializada por pequenos agricultores, geralmente denominados como “familiares”, onde a produção tem sido prioritariamente voltada para o mercado interno.
As hortaliças, sem dúvida, são importantes fontes de vitaminas, sais minerais, fibras e antioxidantes. Entretanto, o consumo delas em nosso País permanece bem abaixo dos valores diários preconizados por instituições de saúde. Esse baixo consumo tem sido também acentuado pelo cenário econômico, inflação e baixo poder aquisitivo da população.
Cadeia produtiva
O agronegócio de hortaliças possibilita a geração de grande número de empregos, sobretudo no setor primário, devido à elevada exigência de mão-de-obra nas diversas etapas da produção, incluindo a semeadura, tratos culturais, colheita, beneficiamento e comercialização. Essa cadeia produtiva é bastante dinâmica e apresenta vários desafios, onde há produção o ano inteiro nas diferentes regiões do País, com diferentes níveis de tecnologia, de produtividade e de fluxo de caixa para investimento.
As hortaliças são mais lucrativas que outras culturas, como as de grãos, por exemplo, com uma realidade bem mais complexa, e o sucesso dos negócios com essa cadeia produtiva depende de vários fatores. Sabe-se que as hortaliças são culturas temporárias e, assim, necessitam de um maior investimento inicial, sendo que nos últimos anos tem-se verificado um aumento expressivo dos custos de produção. Como exemplo, apenas na cultura do alho, de acordo com o recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), realizado nas quatro principais regiões produtoras do País, o custo de produção em 2022 ultrapassou os R$ 200 mil por hectare, valor esse verificado na principal região produtora do Brasil, em São Gotardo/MG. Vale mencionar que essa região, juntamente com Cristalina/GO, são as principais produtoras de alho do cerrado brasileiro e possuem as fazendas mais tecnificadas nessa cultura, segundo a Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa).
VBP
O Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária, que projeta a receita do setor primário dentro da porteira, deve ter batido recorde e alcançado R$ 1,32 trilhão em 2022, alta de 2,1% na comparação com 2021, segundo estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Nesse cenário, o VBP em 2022 das principais cadeias agrícolas foi: soja (R$ 385,2 bilhões), milho (R$ 165,5 bilhões), cana-de-açúcar (R$ 80 bilhões), café (R$ 57,5 bilhões) e algodão (R$ 50,1 bilhões). E as hortaliças?
Esse estudo do VBP mencionou apenas três cadeias produtivas: batata (R$ 13,2 bilhões), tomate (R$ 11,7 bilhões) e cebola (R$ 4,9 bilhões). Considerando apenas estas três cadeias, o VBP atingiu a soma de R$ 29,8 bilhões, valor superior ao das cadeias do arroz, feijão e tantas outras. Com isso, podemos (re)afirmar a grande importância e a dimensão da cadeia produtiva de hortaliças para a economia brasileira.
Comparando com o ano de 2021, houve um crescimento do VBP de 99,1% para cebola, 40,3% para a batata e 15,5% para o tomate. Em que pese o aumento dos custos de produção, as condições climáticas não tão favoráveis em determinados locais e a pandemia, a produção dessas importantes hortaliças foi bastante razoável de uma forma geral nas diferentes regiões produtoras, trazendo renda para os agricultores (setor primário), e movimentando os setores secundário (insumos e agroindústrias) e terciário (distribuidores, transportadoras e comerciantes de produtos agrícolas).
Fonte: Embrapa