Artigo do engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria, Pedro Gonçalves
O emocional do brasileiro ficou marcado em 2022, principalmente no final do ano. O hexa não veio e grandes ídolos do futebol nos deixaram, entre outros acontecimentos.
Para o pecuarista, o ano também foi diferente. Na Scot Consultoria, costumamos dizer que todo ano pecuário é um ano atípico e 2022 não fugiu a essa regra.
No início do ano, com a retomada da exportação para a China, a cotação da arroba do boi gordo decolou. A bonificação, ou ágio, atingiu R$30,00/@ em relação aos bovinos destinados ao mercado interno. Boiadas para o mercado interno estavam em R$337,00/@ e, as destinadas à exportação, estavam acima de R$350,00/@, livre de impostos e a prazo.
Na figura 1, o comportamento da cotação da arroba do boi gordo em 2022.
Figura 1. Preços para a arroba do boi gordo na praça pecuária paulista.
Fonte: Scot Consultoria
E esse caminho de alta durou até março, a partir daí o cenário mudou.
A cotação caiu, subiu em julho e sem consistência, caiu sem parar até novembro, reagindo em dezembro, mas sem força para atingir o mesmo nível do começo do ano.
Um dos fatores da perda de firmeza foi o consumo interno de carne bovina, que esteve abaixo das expectativas o ano todo, reflexo da crise econômica provocada pela pandemia, inflação e desemprego. A firmeza dos preços no varejo também contribuiu, os preços não acompanharam a queda da cotação da arroba do boi gordo.
A exportação recorde em dezembro, comparada a dezembros dos anos anteriores, foi um fator para a recuperação do último mês do ano. Recuperação que não durou.
Exportação – será recorde?
Se no mercado interno o consumo patinou e esteve baixo, o consumo externo foi recorde, tanto em faturamento como em volume.
Figura 2. Volume, em toneladas, e faturamento, em bilhões de dólares, da exportação de carne bovina in natura.
Fonte: Secex / Elaborado por Scot Consultoria
O mercado chinês respondeu por 62,0% do volume com a exportação de carne bovina in natura.
Neste início de ano, a impressão é que o apetite do dragão não cessou. Nos primeiros 10 dias úteis de janeiro, os embarques de carne bovina in natura foram de 7,7 mil toneladas/dia em média, alta de 18,4% em relação a janeiro de 2022.
Se esse desempenho continuar, poderemos ter mais um recorde para em janeiro, superando as 317,4 mil toneladas registradas em janeiro do ano passado.
A cotação está em US$4.868,30/tonelada, 7,0% menor em relação à média em janeiro de 2022.
Bem atrás da China, os principais importadores da carne brasileira são Egito, Estados Unidos e Chile (tabela 1).
Tabela 1. Destino da exportação brasileira de carne bovina in natura, em volume (toneladas) e participação no total exportado, em 2022.
Fonte: Secex / Elaboração Scot Consultoria
Expectativas
Este é o ano do coelho, segundo o calendário chinês, e os ventos parecem estar em nosso favor, estamos com o pé-de-coelho em mãos.
No final de 2022, a projeção era de retração da importação de carne bovina pelos chineses em 9,6%, porém esses números foram revistos em janeiro e a expectativa é de incremento. Um aumento de 2% em relação às compras globais feitas em 2022. O Brasil poderá ser favorecido.
Os concorrentes, como Argentina, Estados Unidos e Austrália, diferentemente do Brasil, estão retendo fêmeas e o preço nesses países deverá subir, favorecendo a opção da carne brasileira.
No mercado interno, contudo, a expectativa é de preços pressionados em função do aumento da oferta e da perda do poder aquisitivo do consumidor.
Referências bibliográficas
- Scot Consultoria
- Secex, Secretaria de Comércio Exterior
- USDA, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
Fonte: Scot Consultoria