São mais de 20 dias sem chuva em algumas regiões do Rio Grande do Sul e alguns produtores já consideram irreversíveis os danos no rebanho. “Gado emagrecendo, campos praticamente queimados e falta de políticas públicas de prevenção à seca. Este é o roteiro de um filme que parece se repetir em mais um verão com predominância da estiagem causada pela incidência do fenômeno La Niña”, informa o Instituto Desenvolve Pecuária.
No entanto o impacto não será apenas da porteira para dentro, mas também deve refletir sobre as contas públicas, com a redução no Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho. “O impacto que causa a seca é inclusive sentido nas contas do Estado, com a diminuição da safra e, consequentemente, do PIB, desalinhando a balança comercial”, ressalta o presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Luís Felipe Barros.
Pecuária gaúcha
O cenário é de alerta em Itaqui (RS) e Uruguaiana (RS), na Fronteira-Oeste do RS, onde a seca é muito forte e os reservatórios de água estão muito baixos. “Trabalhamos com muito campo nativo que está muito seco, e queimado, sem a vegetação rala”, relata o criador Glauco Monteiro. Para ele, os anos seguidos de La Niña podem ter afetado o lençol freático, fazendo o gado parar de engordar. Sendo assim, mesmo que volte a chover, os campos provavelmente não vão ter tempo de se recuperar.
“Estou me obrigando a desmamar os terneiros três meses mais cedo, incrementando custo de suplementação que não teria dentro do meu sistema, tendo que alocar estes terneiros nos campos de um pouco mais de qualidade numa época não tão adequada para poupar a vaca que estaria amamentando e não perder o desenvolvimento deste terneiro”, conta Juliano Leon, criador de Pelotas (RS). Segundo ele, os demais produtores que trabalham com terminação na região, estão entregando animais antes de finalizar a terminação para ajustar a lotação, pensando nos animais que ficam na propriedade com desempenho já comprometido.
No município de Candiota (RS), há relatos de criadores com porteiras sem respeitar a categoria animal por falta de água. “Não sei o que o prefeito está esperando que não decreta situação de emergência”, questiona o criador Arturo Isamendi, que com cacimba (poço) chegando ao limite já solicitou um caminhão-pipa para se abastecer.
O maior prejuízo deve ser a redução de desempenho, em termos de ganho médio diário, nas categorias de recria e terminação, o que faz alongar o ciclo, explica o criador e médico veterinário de Cachoeira do Sul (RS), Andrei Bescow. “Já nas categorias de cria, o maior prejuízo se dará na redução das taxas de prenhez ou então na demora em conceber, com concepção no final da estação reprodutiva”, explica.
Três anos de estiagem
Outro gargalo é a falta de incentivo do poder público para auxiliar os produtores. “O Estado ainda tem que melhorar a questão das leis ambientais, que é extremamente rígida, tem que melhorar a questão de subsídios para que se possa fazer as barragens, para que se possa fazer as contratações dos pivôs e não sofrer tanto com a estiagem”, afirma Barros.
“Os produtores poderiam ter tomado movimentos estratégicos em relação à seca, porque ela tinha sido prevista, se sabia dela, e então poderiam algumas atuações terem sido realizadas e não foram. As pessoas ficaram estáticas”, avaliou o dirigente diante dos três anos de estiagem.