A área de café do Paraná está em constante redução há décadas. Em 2008 eram mais de 96 mil hectares, enquanto neste ano são menos de 30 mil, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa redução decorre de diversos fatores, porém membros do setor defendem que a cultura ainda é rentável e que algumas alternativas podem auxiliar na sua lucratividade, como investimento em tecnologia e qualidade.
Apesar de muitos apontarem a “geada negra” de 1975 como causa para a desistência de muitos cafeicultores, especialistas discordam desse evento como único causador da redução na área de café. “O que acabou com o café do Paraná foi a tradição, o tradicionalismo. Veio do avó e do pai para o filho e não mudou o jeito de tocar o café. Há cem anos atrás a gente tinha terras férteis e mão de obra muito fácil. A gente não tinha pragas e as doenças que tem hoje. Para cultivar o café você tem que investir em tecnologia e mudar o sistema de trabalho”, destaca Otávio Oliveira da Luz, Coordenador Estadual de Projetos e Programas – Café.
Além disso, o preço também é apontado como um dos causadores da diminuição do cultivo. “Claro que a cultura enfrenta outras dificuldades, como mão de obra e todo o custo dessa lavoura ficou mais caro, mas acredito que o principal fator realmente acaba sendo o preço”, avalia o Gerente da Unidade de Beneficiamento de Café da Cocari, Jose Eduardo De Carvalho Martinez.
Essa redução tem um efeito direto na economia do estado, cuja grande parte da história é baseada no café, afetando indústrias, torradores e todo o setor.
Rendimento
Desistir do café, no entanto, pode não ser a única alternativa ou a mais lucrativa para os produtores. Oliveira da Luz relata que, em um comparativo com algumas das principais culturas do estado, como soja, leite, goiaba e abacate, o café ainda é mais rentável, considerando uma produtividade em torno de 45 sacas beneficiadas por hectare e o preço atual de cerca de R$1200 a saca.
“A gente sabe que o preço médio do café, considerando os últimos 60 anos, está em torno de R$ 800 a saca, então a gente entende que se lavoura for trabalhada com a tecnologia disponível para o café – e o Brasil é o que mais tem [tecnologia] no mundo – a gente consegue produtividade na faixa de 40 a 60 sacas beneficiadas fácil, fácil. […] Nessas condições é uma das culturas que tem mais retorno, apesar de ser uma cultura que envolve bastante investimento, o retorno é muito bom”, explica o especialista.
Especiais
Um nicho promissor é o dos cafés especiais. Consumidores costumam preferir produtos com selo, quando comparam produtos de mesmo preço, e estão dispostos a pagar até R$ 0,60 (6%) a mais pelo produto com selo, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Axxus no ano passado.
Para os produtores, esses cafés agregam valor e aumentam a lucratividade, no entanto, o processo exige mais cuidado. “Você faz qualidade durante o ano e depois você mantém a qualidade com uma colheita bem feita e um pós colheita muito bem feito. Com certeza quem faz qualidade, agrega valor e em muitos casos agrega bastante valor. Dependendo do nicho de mercado que atinge, chega a vender até 100% do valor de commodity”, ressalta o coordenador estadual.
A Cocari está entre as empresas que estão investindo nesse segmento, comercializando cafés gourmet. O gerente percebe que os consumidores mais jovens estão aprendendo a beber um bom café. Porém, também é preciso evolução no campo. “A gente precisa que o produtor entenda a necessidade de produzir um produto de qualidade. Se ele conseguir melhorar e se tecnificar, melhorando o seu processo como um todo, ele vai conseguir agregar um valor e consequentemente a produtividade dele vai aumentar, assim como a rentabilidade”, destaca.
Incentivo
Atualmente, o Paraná conta com iniciativas de prefeituras para incentivar e manter a produção de café. Para organizar esses esforços, o governo estadual está elaborando um plano para apoiar o setor, considerando inclusive ampliar as áreas de café. “A cafeicultura, principalmente para o pequeno agricultor, entra como diversificação da propriedade. Então ele pode ter uma área, que pode não ser grande de café, mas altamente produtiva, junto com uma fruticultura, olericultura ou gado de leite, para dar estabilidade”, explica Oliveira da Luz sobre a importância da cultura.
Apesar de ter perdido espaço no Paraná, o café segue evoluindo no Brasil e o consumo cresceu na pandemia. No estado, grande parte do café produzido tem origem na agricultura familiar e estimula toda uma cadeia de produção, demonstrando a importância econômica dessa tradicional cultura.