Nos últimos meses, as bacias leiteiras do Sul do Brasil sofreram seca intensa, devido ao fenômeno climático La Niña, o que prejudicou a produção de alimentos – pastagens e grãos. Esse cenário, no entanto, impulsionou as altas no custo do leite no comércio.
Além disso, os custos de produção aumentaram, com os preços do milho e da soja – principais insumos utilizados na alimentação de bovinos – subindo, o custo do frete, a alta dos preços dos defensivos, fertilizantes, a valorização do dólar, além da quebra da primeira safra no Brasil (2021/22).
Em função disso, muitos produtores de leite desistiram da atividade, uma vez que as margens, já apertadas, ficaram ainda menores, resultando em prejuízo para muitos. A produção caiu.
Com isso, os preços vigentes no campo, pagamento ao produtor pela matéria-prima, subiram e estão sendo repassados na comercialização do leite e seus derivados no atacado.
Quanto ao leite no varejo, a fim de comparação, trouxemos os preços nominais e reais (figura 1).
Figura 1. Preço do leite longa vida (UHT) no varejo paulista, deflacionado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) (em azul) e nominais (em vermelho)
Fonte: Scot Consultoria
O preço atual (junho) é o recorde considerando o preço deflacionado do leite longa vida. Entretanto, os recordes anteriores aconteceram em junho de 2009 e outubro de 2020.
Como fica o consumidor?
Ao compararmos os preços médios nominais anuais com os respectivos salários-mínimos, atualmente o poder de compra do consumidor, apesar do aumento recorde, não é o pior do período entre 2002 e 2022 (até junho). Veja na figura 2.
Em 2002, o consumidor compraria, com um salário-mínimo, 168,33 litros de leite. Atualmente, compra-se 242,71 litros. Contudo, o melhor poder de compra foi em 2017, em que o consumidor comprava 301,75 litros de leite longa vida com um salário.
Figura 2. Poder de compra do consumidor: relação entre salário-mínimo (R$) e preço do leite (R$/litro)
Fonte: IpeaData e Scot Consultoria
Qual o horizonte para o preço do leite?
No curto prazo, a diminuição da captação de leite brasileira deve continuar agindo. Vemos uma possível diminuição no preço do milho, com o aumento da oferta com o avanço da colheita, entretanto, não é esperado que seja um recuo expressivo, devido à menor oferta no mercado internacional.
Não se vê o fim da guerra no leste europeu, a fim de normalizar o fornecimento de grãos e fertilizantes.
O período seco do ano vai até outubro e até lá a qualidade das pastagens será baixa, assim como a quantidade produzida.
Assim, a expectativa é de mais aumentos no preço do leite pago ao produtor. Consequentemente, os preços no varejo devem acompanhar esse movimento no curto e médio prazo até a reversão do quadro pintado nessa carta.
Referências
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
IpeaData
Fonte: Scot Consultoria