O câmbio e o desenvolvimento da safra norte-americana são os principais pontos de atenção para o mercado de soja e derivados, informou o analista de mercado da SAFRAS & Mercado, Gabriel Castagnino Viana, durante a live Mercado em Destaque desta quinta-feira (30).
Segundo o especialista, os preços do óleo de soja nos últimos anos vem subindo gradativamente no mercado interno, principalmente, pela alta da soja grão. “O complexo soja vem subido assim como o câmbio (valor do dólar frente ao real). Então, como em qualquer commodity, ela se valoriza frente à exportação por causa da alta do câmbio; assim nosso produto aqui fica mais barato e a gente exporta mais”, explica.
Contudo, no início da semana passada o óleo, que chegou a ser comercializado a R$ 9.500 a tonelada, foi ofertado a R$ 7.300 a tonelada no porto de Paranaguá/PR. “Tinha vendedor, mas não tinha comprador, então uma queda de mais de R$ 2 mil em pouco mais de um mês”, ressalta Viana.
O desenvolvimento da safra norte-americana também deixa o mercado em alerta; já que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou dados de plantio da oleaginosa abaixo do que era esperado. “As incertezas agora são em relação ao clima, já que se a safra for cheia, deve limitar as altas nos preços no Brasil; porém, se der quebra na produção, os preços devem disparar no mercado doméstico brasileiro”, frisa.
A estimativa feita no início da semeadura da soja apontava para uma colheita de cerca de 145 milhões de toneladas; contudo, a revisão aponta expectativa de colheita de 123 a 125 milhões de toneladas nesta temporada.
Atenção para:
- Oscilação do câmbio;
- Desenvolvimento da safra norte-americana;
- Ano eleitoral no Brasil;
- Possibilidade da China aumentar o volume de soja oriundo dos EUA;
- Possível encarecimento da Argentina sobre as exportações de óleo de soja e maior oferta de farelo pelo aumento da mistura de biodiesel no país (reduzindo prêmios de farelo);
- Quebra de safra sul-americana;
- Menor disponibilidade de petróleo da Rússia;
- Menor oferta do óleo de girassol da Ucrânia;
- Quebra na safra de canola do Canadá e menor do óleo de canola;
- Incertezas sobre o óleo de palma da Indonésia.
Argentina
O clima foi de grande impacto na safra argentina, reduzindo a estimativa de produção de 50 para 41 milhões de toneladas. O país é o maior exportador global de farelo e óleo de soja, então essa quebra acaba impactando diretamente nos preços. A Argentina também sofre com a escassez de diesel, o que levou o governo a aumentar o percentual de mistura de biodiesel no diesel comum. “Então a mistura de biodiesel vai passar de 5% para 12,5% pelos próximos 60 dias; e depois de 60 dias vai para 7,5%”, relata o especialista.
Houve também aumento nas tarifas de exportação de farelo e de óleo de soja no país, que passaram de 31% para 33%. “Então a gente vai ter com certeza ter uma alta nos prêmios e nos preços de óleo de soja na Argentina, e isso deve impactar diretamente aqui nos nossos portos, aumentando os prêmios”, informa.
O quão forte vai ser essa alta essa alta ainda fica um pouco em aberto, já que não temos certeza da capacidade de produção argentina e se as indústrias do país vão poder suprir a demanda tanto do setor de biodiesel, quanto nos portos.
Com a alta nos prêmios de exportação, o óleo também deve subir. “Os prêmios que hoje estão bem negativos, mas com essa mudança no cenário do argentino e com o nosso câmbio mais elevado, se os prêmios voltarem a subir nos portos a gente pode ver um novo salto nos preços do óleo de soja”, complementa.
Biodiesel
O Brasil tem uma política de produção de mistura de biodiesel ao diesel comum, que vem aumentando entre 1 e 2% ao longo do ano. Em 2019, a mistura era de 11%, em 2021 subiu para 13%; todavia, a mistura passou para 10% desde o início de 2022. “Isso consome cerca de 65% do que é produzido de óleo de soja no Brasil, ou seja, é um consumo que vem gradativamente crescendo, o que vai reduzindo a oferta de óleo no mercado”, afirma Viana.
Óleos vegetais
Com as sanções da Europa contra a Rússia, as exportações de petróleo estão bem limitadas, já que o país é o segundo maior produtor e exportador do mundo. “Com a menor oferta de petróleo no mundo devido a exclusão da Rússia deste mercado e a correlação com os óleos vegetais, no geral, acaba levando os preços do óleo de soja para cima”, destaca o analista de mercado.
Por outro lado, os embarques da Ucrânia também estão limitados. “O país é o segundo maior produtor de óleo de girassol no mundo e também não consegue exportar, o que acaba limitando a oferta de óleos vegetais”, frisa.
O Canadá, principal exportador mundial de canola, teve quebra na produção o que também limitou a oferta. Além disso, outro ponto de atenção nos últimos meses foi o bloqueio das exportações de óleo de palma da Indonésia. O país é o principal exportador global de óleo de palma e estava sofrendo com alguns problemas de inflação nos alimentos, levando o governo a bloquear os embarques em maio, “o mercado já foi reaberto, mas o cenário continua tenso, o que acabou elevando os preços dos óleos vegetais no mundo”, explica Viana.
China
Outro fator que impacta sobre o mercado é a possibilidade da China aumentar o volume de soja oriundo dos Estados Unidos nas próximas temporadas em uma aproximação entre Biden e Xi jinPing.