Por Mayara Zunckeller, gerente de operações de Sistemas de Gestão
Estabelecer o ciclo de vida de um produto requer muito planejamento e cuidado. Cada estágio de sua evolução traz desafios junto à cadeia produtiva que precisa ser rapidamente sanados por meio de avaliação contínua de processos e, sobretudo, para que possa cumprir sua função ambiental.
Desde o desenvolvimento deste produto, é preciso obter uma análise sistêmica de todo o seu processo de fabricação, desde a extração da matéria-prima, passando pela cadeia de fornecedores, beneficiamento, manufatura, até o transporte e chegada ao cliente final.
Já neste passo inicial, é fundamental desenvolver estratégias voltadas ao uso, reuso e reciclagem, antes mesmo que este produto chegue ao mercado. Esta tarefa cabe ao Design for the Environment (DfE), que busca estabelecer uma abordagem segura e sustentável ao design de um produto, na sua fase de pré-comercialização, tendo como objetivo diminuir riscos para a saúde humana e ambiental. O DfE é estabelecido por uma equipe multidisciplinar de designers que faz um mapeamento da funcionalidade do produto, seguido de uma análise de seu desempenho de sustentabilidade, e os consequentes impactos potenciais que possam acontecer ao longo do ciclo de vida. Por que isso é importante? A gestão de impactos no clico de vida garante a otimização de ações e estratégias e evita uma mera transferência de problemas.
Isso permite que a fabricação do produto esteja alinhada a uma série de certificações, sobretudo ao ISO 14001, que prevê o desenvolvimento de práticas de gestão ambiental, apoiando a proteção ecológica, prevenção da poluição, minimização de resíduos, bem como redução do consumo de energia e materiais. Estes elementos também possibilitam oportunidades de diferenciação do produto, conferindo a ele características sustentáveis que o distingue dos demais itens de sua categoria.
Para garantir uma gestão ambiental eficiente, empresas passaram a adotar modelos produtivos baseados no conceito da sustentabilidade. Esta evolução acontece, principalmente, com a implementação de inovações tecnológicas, que buscam alternativas sustentáveis para a transformação de matérias-primas.
Este modelo de gestão avalia a melhoria de processos de fabricação, desde o gasto de energia empreendido na fabricação do produto, o uso da água, a geração de gases poluidores, a escolha de insumos, o material da embalagem e seu consequente reuso ou descarte, e todo consequente impacto ambiental que essa cadeia de produção deverá causar.
As soluções da indústria 4.0, com o processamento de dados, o uso de softwares, e digitalização de processos podem contribuir, por exemplo, para se ter uma eficiência energética na produção, a economia ou reuso de água, e o emprego de embalagens de fácil degradação ou reciclagem. Estas medidas também garantem mais transparência, uma vez que o consumidor que pode ser valer dessas informações para fazer uma escolha mais consciente na hora de sua compra.
Além do uso da tecnologia, corporações no mundo todo passaram a compensar o dispêndio de gás carbônico em seus processos produtivos com a compra de créditos de carbono, ou com medidas que buscam a neutralização da geração do gás. Mas qual é a diferença entre eles?
Os créditos de carbono são como “moedas ambientais” utilizadas não apenas por empresas, mas também por países, para a compensação de emissões excessivas de gás carbônico, por meio da compra de “cotas” de menor gasto, ou de medidas que reduzam a poluição.
Já a neutralização busca um conjunto de práticas sustentáveis depois do cálculo de emissões de carbono de uma atividade empresarial. A partir deste dado, são tomadas medidas para anular as emissões, como o plantio de mudas em áreas devastadas, o uso de biocombustíveis e outras formas de energias renováveis, além da melhora na eficiência dos gastos de energia e água.
Outra providência que busca certificar o ciclo de vida do produto é a rotulagem ambiental, criada para combater a prática de greenwashing, ou a propaganda enganosa de ações de sustentabilidade que são simplesmente de fachada ou enaltecem determinados aspectos em detrimento de outros, que não são nada positivos em termos sustentáveis.
São três rótulos ambientais: o Tipo 1, ou Selo Verde, faz o comparativo com os ciclos de vida de produtos similares com certificações como ABNT; o Tipo 2, que traz declarações sobre o processo produtivo, como “reciclável” ou “consumo de energia reduzido”; e o Tipo 3, que traz o detalhamento dos impactos ambientais referentes a cada um dos processos produtivos, também conhecido como Declaração Ambiental do produto.
Estas medidas reforçam a necessidade do desenvolvimento do pensamento de ciclo de vida com um eficiente planejamento estratégico, para que o produto ou serviço possa cumprir todas suas etapas de “nascimento, maturidade e morte” com total transparência dos impactos ao meio ambiente que seu processo produtivo possa causar, indicando todos os atores envolvidos e subsidiando a contínua otimização do todo.