Mercado

Aperto na margem do pecuarista

A desvalorização do real frente ao dólar pesou na formação de preços dos insumos importados.

O cenário pela frente é desafiador, alta nos insumos e demanda fraca reduzem a perspectiva de melhora nas margens do produtor. “Planejar e gerir os riscos do sistema de produção devem fazer parte do dia a dia do produtor, auxiliando as decisões e possibilitando melhores margens”, explica o analista de mercado da Scot Consultoria, Rodolfo Silber.

A dependência da importação de insumos agropecuários mantém um cenário de incerteza e exposição a fatores externos que impactam diretamente nos preços dos produtos. “Foi o que aconteceu com a pandemia de covid-19, que afetou diretamente a produção e as cadeias globais de abastecimento gerando escassez de insumos e produtos, com custos além do esperado afetando todo o setor”, informa.

Recentemente, o conflito entre Rússia e Ucrânia elevou os preços das commodities, principalmente no petróleo e derivados, incluindo os fertilizantes. “Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar pesou na formação de preços dos insumos importados”, frisa Silber.

Indicador de preços

Diante do cenário de volatilidade de preços dos insumos agropecuários, ficou ainda mais importante o monitoramento de preços e de oportunidades. “Ao analisar os custos para os três sistemas de produção, sendo eles a pecuária de baixa e alta tecnologia e o confinamento, entre o primeiro semestre de 2020 e os primeiros quatro meses de 2022, observa-se constantes altas ao longo do período analisado”, destaca o analista. 

De acordo com Silber, no período analisado, o custo de produção da pecuária com alta tecnologia subiu de 63%, a de baixa tecnologia 62% e o confinamento 48% (figura 1).

Figura 1. Comportamento semestral da variação do índice de custo de produção da Scot Consultoria para diferentes sistemas de produção.

*até abril. Fonte: Scot Consultoria 

“No período analisado, apenas os concentrados energéticos e proteicos apresentaram uma ligeira redução, os demais insumos que compõem o índice subiram”, informa. No entanto, o destaque vai para os fertilizantes e defensivos, que aumentaram 81,5% e 86,1%, respectivamente, em 2021 (figura 2). 

Figura 2. Variação anual da cotação dos insumos que compõem o índice de custo de produção da Scot Consultoria.

*até abril. Fonte: Scot Consultoria

Variação dos custos e do boi gordo

Silber explica que ao analisar a variação do índice de custo de produção de janeiro de 2020 a abril de 2022, os custos de produção aumentaram 81%, 84% e 57% para a pecuária de baixa tecnologia, alta tecnologia e confinamento, respectivamente. Contudo, já a referência para o boi gordo em São Paulo caiu 38% no mesmo período (figura 3). 

Figura 3. Variação mensal do índice de custos de produção da Scot Consultoria (ICPSC) para três sistemas de produção e do preço da arroba do boi gordo em São Paulo. Janeiro de 2020=base 100.

Fonte: Scot Consultoria 

“Ao considerarmos o cenário de alta nos custos de produção envolvidos na atividade pecuária e a queda do preço do boi gordo, a margem ao pecuarista caiu 43% nos sistemas de baixa tecnologia, 46% no de alta tecnologia e 20% no sistema de confinamento, entre janeiro de 2020 a abril de 2022”, finaliza o analista. 

Dados da Scot Consultoria