O preço do leite captado em setembro e pago aos produtores em outubro registou queda de 2,2%, chegando a R$ 2,3305/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Esse valor é 1,2% menor do que o observado no mesmo período do ano passado, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de setembro de 2021). Esta é a primeira desvalorização do leite no campo em seis meses e evidencia o início da safra da produção leiteira.
Vale lembrar que é típico que se observe queda de preços no campo a partir de setembro, devido ao incremento na oferta, tendo em vista que a produção é favorecida pelo retorno das chuvas da primavera e pela consequente melhoria da qualidade das pastagens. De fato, de agosto para setembro, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea aumentou 2,2% na “Média Brasil”, favorecido pelo clima e pela melhor relação de troca do leite frente ao milho, insumo básico da atividade.
De acordo com dados do Cepea, em setembro, foram precisos 38,8 litros de leite (média Brasil) para se adquirir uma saca de milho 60 kg (Indicador ESALQ/BM&FBovespa Campinas-SP), melhora de 7,2% no poder de compra do pecuarista frente ao observado em agosto. Ainda assim, em 2021, o incremento na oferta tem ocorrido de forma mais lenta do que no ano passado, tendo em vista justamente os elevados custos de produção. Vale lembrar que, em setembro de 2020, o ICAP-L registou alta de 3,1% e foram necessários 28,2 litros para a compra de uma saca de milho.
Além do início da safra, é importante destacar que a retração da demanda também desempenhou papel relevante para a retração de preços no campo em outubro. A crescente perda no poder de compra do consumidor tem desacelerado as vendas de derivados desde meados de agosto. Com demanda enfraquecida e pressão dos canais de distribuição, os estoques se elevaram, forçando as indústrias a reduzirem os preços dos lácteos ao longo de setembro. As negociações do leite spot em Minas Gerais também perderam força em setembro, e os preços caíram de R$ 2,58/litro na primeira quinzena, para R$ 2,50/litro na segunda, recuo de 3%.
A expectativa do setor é de que o preço do leite captado em outubro e pago ao produtor em novembro registre nova queda, tendo como fundamentos o retorno das chuvas, o consequente crescimento da oferta e a continuidade do movimento de desvalorização dos derivados lácteos e do leite spot em outubro.
Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em temos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro/2021)
Fonte: Cepea-Esalq/USP.