O cenário atual da cadeia leiteira é de instabilidade e de contínua desistência de produtores frente a desafios econômicos e sociais. Após períodos de redução, em julho deste ano o preço de referência aos produtores subiu e chegou a R$ 3,3049. Porém, logo em seguida, em agosto, o valor de referência projetado pelo Conseleite-RS caiu para R$ 2,8157 o litro, redução de 14,80%.
“Ele [produtor] deu uma animada e aí o preço caiu pela metade. Tem cooperativas que nesse último mês baixaram quase R$1 no preço ao produtor por que a indústria pagou menos para a cooperativa e ela se obrigou a pagar menos para o produtor. Mais uma vez a consequência vai ser que mais uma leva de agricultores vai sair da atividade”, avalia o Presidente da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária do Rio Grande do Sul (Unicafes/RS), Gervásio Plucinski.
Para encontrar alternativas e um modelo competitivo de negócios, oito cooperativas associadas estão se unindo e buscando estratégias conjuntas para comercialização, compra de insumos e assistência técnica. “Eu acho que essa intercooperação que nós estamos fazendo entre nossas cooperativas é muito muito forte no sentido de que uma cooperativa aprende com a outra, eu acho que esse é o principal”, destaca Plucinski.
Com o objetivo de avaliar o cenário atual, conhecer referências e construir um conceito de modelo produtivo e perfil de produtor, a Unicafes-RS e as cooperativas promoveram o seminário de Gestão e Assistência Técnica no Leite, realizado nesta quinta-feira (22) em Passo Fundo. O evento reuniu a AGRICOOP, COOPEAGRI, COOPAC, COOPERLATE, CASA, COOPAR, COOPTIL, SANTA CLARA e CASTROLANDA.
Referência
Uma referência de intercooperação é a Unium, ação que reúne a Frísia, Castrolanda e Capal no Paraná, formando uma das maiores fabricantes de leite do país. “São cooperativas se unindo para se fortalecer no mercado, para não competir entre si e para dar mais condições aos seus cooperados, tanto condições de compra, por que o volume aumenta, quanto condições para buscar o mercado, já que agora é um único produto”, explica o gerente executivo de negócios leite da Castrolanda, Eduardo Ribas.
O palestrante acredita que há muitas similaridades entre as cadeias gaúcha e paranaense, já que elas enfrentam os mesmos desafios. “Os problemas dentro da atividade leiteira são iguais, independente do volume de produção, é o mercado, é o preço do leite, é o consumidor, é uma seca, é a demanda, é a renda do trabalhador, tudo impacta no consumo do leite”, elenca o gerente. Desta forma, o diferencial estaria justamente na intercooperação adotada pelas cooperativas paranaenses.
Desistência
Apenas na Castrolanda, o número de cooperados que produzem até 500 litros de leite passou de 200 em 2017 para 70 atualmente. “É um desafio nosso reter esse pessoal, mas a competição também é grande, você tem uma competição com a soja e com a mão de obra da cidade”, ressalta Ribas. Uma das dificuldades encontradas por esses produtores é investir em tecnologia para se manter competitivos. “A intercooperação, a união, dá segurança para esses produtores se eles fizerem um investimento”, diz o gerente.
Demandas
A situação do preço do leite levou a Unicafes/RS a solicitar audiências no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul. A entidade pede ações governamentais de apoio à cadeia leiteira, principalmente compras públicas, incentivos para a Agricultura Familiar, operacionalização de programas e leis nacionais e estaduais, além da revisão de políticas tarifárias.