Aclimatação, de forma literal, diz respeito às mudanças adaptativas em resposta a uma variável climática. Havendo ajustes fisiológicos adaptativos, que geram aumento de tolerância a exposição em diferentes estressores climáticos.
O processo de aclimatação acontece através de ajustes nos limites do próprio organismo do animal e, geralmente, acarretam em aumento nas exigências de energia de manutenção, o que leva, consequentemente, a uma diminuição na produção do animal (BACCARI JR, 1986).
Não muito diferente, bovinos confinados também passam por todo esse processo em diferentes etapas da sua vida e um dos pontos fundamentais que pode influenciar na lucratividade do negócio é o momento da terminação desses animais.
A chegada do gado no confinamento pode se tornar um momento crítico e gerar um prejuízo futuro caso não seja realizada de forma correta. A aclimatação desses animais serve para uma adaptação mais rápida ao novo ambiente.
Há diversas técnicas que são responsáveis por prover melhores condições, com o foco no bem-estar animal. Algumas delas se baseiam em ensinar aos animais a trabalharem em conjunto com os responsáveis pelo manejo.
Essas estratégias de manejo são relativamente simples e, muitas vezes, sem novos custos ao produtor.
A ideia é fazer o gado se sentir confortável e seguro no ambiente em que está, para entender que o lugar não vai lhe oferecer perigo e, assim, comer à vontade o quanto antes.
Bem-estar em conjunto com aclimatação
De acordo com Costa (2000), ao tratarmos de ambiência, é importante termos em mente um meio físico e psicológico propício para as atividades dos animais que vivem no local.
O ambiente dos bovinos engloba todos os elementos que afetam sua vida, tendo como meio físico as pastagens e instalações para diversas funções como abrigo, contenção e alimentação (OLIVEIRA FILHO, 2015).
A definição de bem-estar animal, segundo a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE,2002) é: “a forma como o animal está respondendo a todas as condições em que ele está integrado”.
Considera-se um animal em bem-estar quando estão saudáveis, confortáveis, seguros, bem nutridos, sem sentimento de dor, medo e angústias, sendo capazes de expressar o seu comportamento natural.
Portanto, as instalações e uma rotina de manejo adequada são cruciais a fim de atender essa definição. E, caso elas sejam postas em prática, haverá uma melhora na produção animal.
Muitas vezes os bovinos são transportados por um longo período até chegar ao confinamento, por exemplo, onde passará a etapa final de sua vida. No momento da chegada é crucial a presença de instalações adequadas para seu recebimento.
Ressaltamos que a sua origem é, em grande parte, de fazendas voltadas para a produção a pasto. Quando é realizado o transporte dos animais para o confinamento, é normal que eles se sintam desconfortáveis em seu novo ambiente.
A relação do animal com o ambiente deve ser levada em conta no processo produtivo, caso o intuito seja maximizar o rendimento. Vale lembrar que as respostas não são iguais em todo o rebanho e o produtor deve entender as peculiaridades regionais para êxito da atividade.
A resposta dos animais a um evento estressante compreende três componentes principais: o reconhecimento da ameaça à homeostase ou bem-estar; a resposta ao estresse; e as consequências do estresse (LINHARES et al., 2015; OACC; CABC; ECOA, 2009).
Técnicas de aclimatação on farm
O pecuarista deve se atentar aos detalhes relacionados aos animais. Não é simplesmente colocá-los nas baias do confinamento e esperar que eles irão alimentar-se corretamente, o que impacta diretamente no desempenho animal.
De uma forma completa, existem técnicas que são utilizadas para a aclimatação e que não devem ser deixadas de lado na chegada dos animais.
Como, por exemplo, deixá-los em um ambiente totalmente voltado para recepção no mínimo entre dois e três dias, que também pode ser em meio às pastagens, para que consigam processar a mudança.
Ao leva-los para dentro das baias, é importante ensinar ao gado onde está a água, o alimento, mostrar o curral de manejo, fazendo com que eles se movimentem de uma forma ordenada.
Durante o processo de reconhecimento do ambiente, os manejadores devem estar presentes para que o gado conheça quem lidará com eles, criando um laço de confiança. Assim, o bovino se prosta mais rápido, facilitando trabalhos futuros como, por exemplo, o diagnóstico de alguma doença.
Entre os diversos benefícios de fazer uma boa aclimatação, podemos pontuar a diminuição da sodomia, refugo de cocho e identificação precoce de doenças.
As técnicas relacionadas à aclimatação são gratuitas e, em longo prazo, o produtor só tende a ganhar caso esses processos tornem-se rotineiros em sua propriedade.
Conclusões
Devemos diminuir o estresse dos bovinos em todas as etapas da sua vida, pois um animal nessa condição diminui seus índices zootécnicos e potencial produtivo.
Os animais mudam conforme o ambiente em que se encontram e entender como os ajustes fisiológicos, anatômicos e comportamentais ocorrem é fundamental para melhorar o rendimento, facilitar o manejo nutricional e definir a ambiência de cada sistema de produção.
Colaboraram Felipe Fabbri – zootecnista, e Amanda Skokoff – médica-veterinária.
Bibliografia
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