Economia

Produtor precisa se preparar para aumento da taxa de juros do crédito rural, afirma economista

A divulgação do Plano Safra 2022/23 e a definição das taxas de juros do crédito rural é alvo de ansiedade dos produtores rurais. A expectativa é de que as taxas de juros sejam elevadas, apesar dos pedidos do setor para que elas sejam mantidas abaixo de dois dígitos.

“Acredito que, dadas as dificuldades de orçamento, o governo vai querer dar uma elevada nas taxas de juros para o setor produtivo. O bom seria que esse patamar de juros ficasse nos patamares atuais para que o produtor [..] possa fazer uma boa lavoura e com uma boa expectativa em termos de resultado, mantendo as margens [de lucro]”, avalia o economista Tarcísio Minetto. Ele abordou o assunto na live Destaque em Pauta desta terça-feira (08).

Tento em vista as falas do governo, são esperadas melhores condições de crédito por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). “Para os demais produtores, talvez o governo lance algumas linhas com taxas de juros bem mais elevadas do que os patamares do Plano Safra passado”, especula Minetto. 

“Eu acredito que vamos ter sim essa elevação de taxa de juros e o produtor tem que se preparar para isso”

Tarcísio Minetto – economista

Além disso, o aumento de custos de produção agrícola eleva a necessidade de recursos. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) solicitou ao governo R$ 21,8 bilhões para equalização de juros, valor quase 70% superior ao Plano Safra atual.  “O produtor vai precisar de mais recursos para aplicar na lavoura, então essa equalização também tem que ter mais aporte orçamentário”, aponta o economista. No final de maio, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, disse que entre R$ 22 bilhões a R$ 23 bilhões de recursos do Tesouro Nacional devem ser destinados à equalização de juros em 2022/2023, caso o Plano mantenha o montante de recursos destinados à safra passada.

Além dos custos de produção, a demanda do setor se baseia no patamar atual da taxa Selic, em 12,75% ao ano, e nos prejuízos decorrentes dos eventos climáticos. “Em termos de economia, tem que ter um outro olhar nestes momentos de dificuldades do ponto de vista de impacto de seca e outras causas que podem trazer risco para o produtor e reduzir a renda. Eu acredito que é preciso continuar com essas taxas de juros priorizadas do ponto de vista de comparação com os juros do mercado”, defende Minetto.

Alguns produtores atrasaram a compra de insumos devido à incerteza das taxas de juros, como relatou o assistente técnico regional em culturas da Emater/RS-Ascar de Erechim, Luiz Ângelo Poletto, ao falar à Revista Destaque Rural sobre a compra de fertilizantes. “É um entrave porque não tem preço definido dos juros do crédito agrícola, de quanto vai ficar”, afirmou.

Ele [produtor] espera contar com o novo plano safra dentro de uma expectativa de taxa de juros que não venha a onerar mais”

Tarcísio Minetto – economista

Neste contexto, é aconselhado aos produtores que prestem atenção ao planejamento e gestão da safra. “É bem complexo, ele não pode deixar de produzir pelos compromissos e muitas vezes financiou máquinas e equipamentos. […] Ele espera contar com o novo plano safra dentro de uma expectativa de taxa de juros que não venha a onerar mais”, afirma Minetto.

Custos

Além disso, especula-se que as taxas do seguro rural também podem ser elevadas em função dos sinistros da safra atual. “Soma-se a taxa de juros elevado a taxa de prêmio de seguro e vai encarecendo mais a lavoura. A gente não pode saber como vai ser o comportamento dos preços [das commodities] até o final do ciclo. Essa é a equação que tem que ser observada”, ressalta o economista. 

Esses quesitos se somam também a uma lavoura que já está mais cara e com uma relação de troca mais baixa. O custo de produção da soja no Rio Grande do Sul, por exemplo, cresceu 52% em um ano, comparando maio de 2022 com o mesmo período de 2021, conforme levantamento da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), elaborado e citado por Minetto. Já a relação de troca caiu mais de 50%. No entanto, ainda há rentabilidade devido aos preços da soja no mercado. 

“Agora o produtor tem que observar aspectos importantes, que é a gestão, o manejo, utilizar os materiais mais apropriados do ponto de vista da sua característica de solo, e que faça essa avaliação [de solo], esse diagnóstico, para não perder produtividade dentro do ciclo de produção. Isso é fundamental”, aconselha o economista.

Atualização: O Mapa deve anunciar nesta semana a liberação dos recursos do Plano Safra atual, não o Plano Safra 2022/23, conforme informado anteriormente. As negociações para o novo plano prosseguem.

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