Leite

Fórum Estadual do Leite: "o balizador do preço é o consumidor"

O presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, abriu o debate ressaltando as dificuldades do setor.

O 17º Fórum Estadual do Leite abordou os gargalos da pecuária brasileira e as oportunidades do setor lácteo. O evento, que ocorreu nesta manhã (9), lotou o auditório central do parque de exposições 22ª Expodireto Cotrijal.

O presidente da Cotrijal, Nei César Mânica, abriu o debate ressaltando as dificuldades do setor; e que, segundo ele, a ministra da agricultura, Tereza Cristina, deve se pronunciar em breve sobre medidas para auxiliar o setor. Na sequência o presidente da CCGL, Caio Vianna, comentou sobre as altas nos custos de produção, ressaltando os preços dos componentes dos concentrados da ração animal e dos fertilizantes.

Fórum

Durante a palestra foram apresentados dados que comprovam o crescimento da produção de leite, apesar da queda no número de produtores. Para o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo do Carmo Martins, um dos grandes desafios, é fazer com que esse aumento alcance todos os produtores, e não fique concentrado num pequeno percentual.

Martins, ressaltou que no Censo de 2017, dos grandes produtores (acima de 500 litros) que somavam 2%, produziam 29,75% do leite nacional; enquanto os pequenos produtores (até 50 litros) que representavam 70% da cadeia, produziam 5,65%. Contudo, entre 2009 e 2020, a produção de leite dobrou entre os cem maiores produtores.

Vantagens financeiras

Para o professor da UFJF, ao analisar dados de uma propriedade no Serrado em 2021, notou-se que os investimentos no leite obtiveram uma rentabilidade de 7,6%, ganhando da maior parte das operações financeiras, com exceção do dólar e do bitcoin.

“O leite tem sido continuamente um bom negócio, porque ele é não apenas aquele líquido branco que chega na mesa do consumidor, mas, acima de tudo, insumo para a indústria. Os tambos geram insumos para que tenhamos 90 componentes e mais de 70 derivados”, afirmou.

Entre 1996 e 2017, o consumo de leite aumentou 37 litros por habitante de cada domicílio brasileiro, superando outras proteínas animais, numa média de 170 litros por pessoa. Segundo Martins, há condições de elevar mais 100 litros. Para ele, o Rio Grande do Sul é uma região de cada vez mais densidade de leite e que gera interessante para as empresas.

Mercado

O diretor executivo da Viva Lácteos, Gustavo Beduschi, falou sobre os desafios do mercado para este ano de 2022. Ressaltando a influência do cenário internacional e das incertezas geopolíticas sobre o setor, assim como os efeitos da pandemia e da estiagem nos preços.

A produção doméstica é responsável por suprir mais de 90% do consumo interno do leite”. Diante disso, para Beduschi, o produtor deve ficar atento a ponta final do produto, pois, “o balizador do preço é o consumidor que está disposto ou não a pagar”, frisa.

Gestão

Diante de um cenário de pandemia, estiagem e tensões geopolíticas o médico veterinário da Rehagro, Matheus Balduino Moreira, explanou sobre algumas maneiras de gestão na pecuária leiteira que auxiliam a superar crises e aumentar as margens do pecuarista.

“Uma gestão eficiente passa pela organização e pelo monitoramento do sistema para que ele alcance os resultados que a gente quer. É entender que grande parte dos problemas advêm do sistema que está errado, não de quem está lá trabalhando. Um bom gestor, sabendo disso, estrutura os processos, indicadores e as pessoas para que o resultado seja alcançado. O caixa é soberano, observe o caixa. Tem muita gente quebrando com a fazenda dando lucro porque quebram o caixa”, comenta Moreira.

De acordo com ele, é preciso saber quanto o produtor está ganhando por hectare e a partir disso usar as ferramentas para melhorar a rentabilidade. Usar ferramentas, por exemplo, para detectar mastite, tratar o problema e assim melhorar a qualidade do leite e, consequentemente, ganhar mais. “Temos que aplicar tecnologia para termos uma margem melhor, ou ainda mais produção por hectare”, destaca.