Avicultura

Barreiras sanitárias tentam conter avanço da gripe aviária

Governo do RS decretou estado de emergência em saúde animal por 60 dias após a confirmação do foco em Montenegro

Governo do RS decretou estado de emergência em saúde animal por 60 dias após a confirmação do foco em Montenegro.
Sete barreiras serão instaladas para impedir o avanço da gripe aviária no Estado | Foto: Seapi/Divulgação

O governo do Rio Grande do Sul decretou estado de emergência em saúde animal por 60 dias após a confirmação do foco de gripe aviária H5N1 em uma granja em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O decreto foi publicado no Diário Oficial do Estado de sábado. Na sexta-feira, o Brasil já havia decretado estado de emergência zoossanitária, também por 60 dias, isolando uma área de 10 quilômetros ao redor da granja afetada.

A medida permite uma resposta mais rápida para combate aos focos de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) confirmados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em uma granja avícola de reprodução, em Montenegro, e outro em aves silvestres no Zoológico de Sapucaia do Sul.

A ação do governo gaúcho é válida para os municípios de Triunfo, Capela de Santana, Nova Santa Rita, Montenegro, Esteio, Canoas, Gravataí, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Cachoeirinha, Novo Hamburgo e Portão.

Sete barreiras sanitárias serão montadas em Montenegro, em um raio de 10 quilômetros a partir da propriedade afetada, com funcionamento 24 horas. Seis barreiras têm como foco a desinfecção e a sétima fará o desvio de trânsito. As ações contam com o apoio da Patrulha Ambiental (Patram) da Brigada Militar. Os pontos de controle sanitários vão operar em um raio de três e dez quilômetros do local do foco. 

Cinco barreiras sanitárias foram instaladas no sábado Três no raio de três quilômetros, sendo uma de bloqueio, e mais duas barreiras no raio de dez quilômetros. “Hoje [sábado] foram oito equipes trabalhando a campo, com um efetivo de 59 servidores da Secretaria da Agricultura. Conseguimos visitar 90% das propriedades que ficam no raio de três quilômetros do foco, que era a prioridade das atividades iniciadas hoje”, afirmou a diretora do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Rosane Collares.

Estão previstas ainda duas barreiras na BR-386, mais uma ao norte na RS-124, outra na TF-10 no sentido Triunfo, e outras três em estradas vicinais, sendo uma de desvio. O objetivo é inspecionar todos os veículos de carga viva de animal, os que transportam ração e fazem coleta de leite, que são veículos que circulam em diversas propriedades rurais. No raio de três quilômetros os automóveis de passeio também serão desinfectados. Os pedestres não são o foco da ação.

Os policiais militares auxiliam no controle da circulação de veículos e pessoas com o intuito de isolar por completo o foco do vírus | Foto: Seapi/Divulgação

Além disso, serão visitadas em torno de 540 propriedades rurais no raio de 10 quilômetros para avaliação e ações de educação sanitárias. No sábado, o Serviço Veterinário Oficial do Rio Grande do Sul (SVO-RS) vistoriou 94 propriedades de subsistência localizadas no raio do foco, sendo 27 na área perifocal (três quilômetros) e 67 na área e vigilância (dez quilômetros), além de uma granja de recria de aves – a única na área de vigilância.

A Patram faz o apoio na segurança e no controle dos veículos nas barreiras, bem como patrulhas volantes na área dos perímetros. Os policiais militares auxiliam no controle da circulação de veículos e pessoas com o intuito de isolar por completo o foco do vírus. Além disso, o objetivo é alertar as pessoas que respeitem os bloqueios e barreiras sanitárias e as orientações que recebam dos PMs e dos agentes de Defesa Sanitária Animal (DDA).

O diretor adjunto do DDA/Seapi, Francisco Lopes, explica que as barreiras sanitárias têm o propósito de isolar o foco de gripe aviária, controlando caminhões com cargas de maior risco. “Trabalhamos com dois raios, um de três quilômetros, onde vão ter duas barreiras de desinfecção e uma de bloqueio; e outro de dez quilômetros, onde serão montadas mais quatro barreiras de desinfecção”, explicou

Suspensões

A confirmação de casos de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em uma granja comercial em Montenegro, no Vale do Caí, e no Zoológico de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre, resultou na suspensão das exportações de frango para os principais consumidores da proteína nacional.

China e União Europeia iniciaram as suspensões na sexta-feira (16). Argentina, Uruguai, Chile e México também barraram a carne de frango brasileira. Entretanto, novas suspensões ainda são aguardadas pelo governo. Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, afirma que a pasta acionou o Plano Nacional de Contingência, comunicou a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e parceiros comerciais internacionais e ainda espera pelos posicionamentos. Ele afirma haver acordos de restrição limitada com a Coreia do Sul e a Rússia. “A tendência é que também haja suspensão neste primeiro momento”, admitiu.

Os focos de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1), conhecida como gripe aviária, foram detectados em uma granja avícola de reprodução, em Montenegro, e outro em aves silvestres aquáticas no Zoológico de Sapucaia do Sul. No estabelecimento de reprodução a doença matou a maioria das 17 mil aves. As 1,6 mil remanescentes foram sacrificadas para conter a disseminação do vírus. No zoológico, morreram 90 animais, entre patos e cisnes.  Local fica a 50 quilômetros do p rimeiro foco da doença em granja comercial.

A titular da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marjorie Kauffman, destacou as medidas adotadas para garantir a segurança no local. “Reforço que o Zoológico segue sem receber visitação por tempo indeterminado, com as equipes seguindo as orientações da Defesa Sanitária Animal e da Secretaria da Saúde. Também estamos fazendo outras avaliações além daquela motivada pela gripe aviária, como a da água”, informou.

O titular da Seapi, Edivilson Brum, salientou que as medidas foram adotadas prontamente após a identificação dos focos. “A secretaria estadual e o Ministério da Agricultura foram muito céleres em tomar providências em relação aos protocolos. Nossas equipes têm experiência e capacidade técnica para efetuar o trabalho e já demonstraram competência para erradicar problemas anteriores”, destacou.

Ambos os casos foram isolados com os protocolos adequados ao plano nacional de contingência para evitar a disseminação da doença. Segundo técnicos da Seapi, por se tratar de uma granja voltada à reprodução, não há risco no consumo de carne ou ovos.

O caso registrado no Rio Grande do Sul é o primeiro em granja comercial no País, sendo do mesmo subtipo dos casos anteriores. Ao todo, já foram registrados 164 casos em aves silvestres, três em aves de subsistência (voltadas ao consumo próprio ou familiar), um em granja avícola e um em zoológico no Brasil.

A coordenadora do Programa Estadual de Sanidade Avícola (Pesa) da Seapi, Ananda Kowalski, explicou que a gripe aviária afeta tanto aves domésticas quanto silvestres, sendo caracterizada pela alta mortalidade. Segundo ela, a ocorrência da doença no Brasil é recente em comparação a outros países. “O Brasil acompanha com atenção os focos mundiais. Em 2022, foi registrada pela primeira vez a entrada da H5N1 na América do Sul, com casos na Colômbia, no Chile e no Peru. Já no Brasil, o primeiro registro foi em maio de 2023, no Espírito Santo”, detalhou.

A coordenadora do Pesa também assegurou que os órgãos de fiscalização estaduais executam um plano nacional de vigilância, com monitoramento constante dos plantéis avícolas e das aves de subsistência. As ações de fiscalização no Estado foram ampliadas, com reforço nas granjas avícolas, que já seguem critérios rigorosos de proteção.